23 dezembro 2006

VEM AÍ O Nº 7


Está quase a sair o nº 7 da Revista Nova Vaga. Terá como tema principal "O DIREITO À RESISTÊNCIA por parte dos cidadãos em Democracia", com artigos sobre este assunto de António Garcia Pereira, José Saldanha Sanches, Diogo Pacheco Amorim, João Almeida Garrett, Joaquim Quelhas Mota, Jorge Ferreira, Manuel Brás e Miguel Félix António.

27 novembro 2006

Entrevista Com Manuel Monteiro

GRANDE ENTREVISTA

Conduzida por Sara Marques


SEM UM GRANDE COMBATE IDEOLÓGICO A DIREITA NÃO SE AFIRMA

Numa entrevista em que procuramos conhecer o pensamento político do Presidente da Nova Democracia, houve ainda tempo para percorrer os corredores que o levaram a sair do CDS e a partir para outra iniciativa partidária. Directo, vai ao ponto de afirmar que PSD e CDS são aliados da esquerda, na recusa de um verdadeiro debate ideológico. Quando lhe perguntamos porquê, responde sem hesitar que há um novo contrato social celebrado entre os que criticam na aparência o Estado, para dele viverem na essência. Defendendo a afirmação de uma direita patriótica, universalista e amante da liberdade, explica que essas são as características do conservadorismo liberal português e que é em nome desses princípios que sustenta um amplo debate na direita portuguesa. Crítico da tecnocracia que considera herdeira do bloco central, sustenta a actividade política como uma competição de ideais que conduzam à existência de alternativas, por oposição ao que considera ser o rotativismo actual do sistema.


Dr. Manuel Monteiro, o que é que o fascina na política, o que é que o levou enquanto jovem a ingressar num partido político?

Fascina-me o desafio e a possibilidade de através desse desafio constante, competirmos pelas nossas ideias. Eu penso que é uma actividade de competição e aquilo que torna a política mais enfadonha, e mais aborrecida, é o facto da competição pura, dura, mas leal, deixar de existir. A competição por ideias, o jogo competitivo, é algo de profundamente fascinante porque requer inteligência, convicção, capacidade de persuasão, arte de comunicar, ou seja envolve um conjunto imenso de factores que ainda não foram descobertos por muitas pessoas. É evidente que a política na sua versão tecnocrática é o oposto disto tudo, e portanto em nome do fazer, e do fazer a qualquer custo, independentemente do pensar, do debater, a politica perdeu o seu lado apaixonante. Essa paixão, digam o que disserem, existiu no - pós revolução e no início da década de 80 e foi precisamente nessa época que mais jovens, como eu, foram atraídos para a política.

E nessa altura porquê a Juventude Centrista?

Primeiro, distribui papéis na JS. Eu estava num liceu, o Passos Manuel, onde também estudava na minha turma, o actual ministro da justiça, o Dr. António Costa, bem como o Dr. Henrique Freitas, que foi Secretário de Estado da Defesa do governo Durão Barroso. Era um liceu muito marcado pelas lutas políticas. Muitas dessas lutas assumiam mesmo o confronto físico, entre militantes da UEC, a União dos Estudantes Comunistas, e o MRPP. Era também um liceu com uma forte implantação da UDP. A luta entre várias facções e interpretações do chamado movimento revolucionário era profunda, diária e intensa. Nesse contexto a JS representava o lado solto e mais sereno do movimento estudantil e eu comecei, com total naturalidade e abertura, a distribuir panfletos preparados pela juventude socialista. Isto aos 14 anos.

Mais tarde aderi ao núcleo da Juventude Centrista que existia no Liceu, muito por “culpa” do grupo com que me tinha entretanto começado a relacionar. Depois recordo-me que nesse ano fui passar as habituais férias de Verão à quinta do meu Avô, em Vieira do Minho, e na casa do meu Avô descobri imensa propaganda do CDS. Percebi que a minha ligação recente à Juventude Centrista teria toda a aceitação por parte de alguém que me era particularmente querido e a partir daí a minha “aposta” no CDS aumentou.

Mas a sua adesão é muito mais por força das circunstâncias do que por convicção ideológica…..

Com certeza, repare até essa altura eu devia ter lido quase todos os livros do Camilo e do Eça, mas livros sobre acção política, no sentido puro do termo não conhecia nenhum. Seria uma presunção da minha parte estar aqui a dizer que aderi a juventude centrista por ideais, pela doutrina, do próprio partido. Isso foi algo que encontrei mais tarde. A minha adesão é feita da forma mais espontânea e muito por reacção á situação que se vivia no próprio liceu, onde estudava.

Quando pensa nos tempos que passou na JC, no CDS e também no PP, no geral pesam mais as situações positivas ou negativas?

As positivas com certeza. Não se podem deitar fora recordações, combates, lutas, momentos, vividos durante muitos e muitos anos. Eu estive 20 e muitos anos ligado aquele partido, e (…)

- O PP foi um projecto de direita sem complexos -

Foi portanto um bom capitulo da sua vida….

(…) sem duvida. Repare eu fui quase tudo naquela casa. Comecei como dirigente associativo estudantil, depois fui membro de uma concelhia da juventude centrista, fui vice-presidente de uma estrutura distrital, fui vogal da direcção nacional da JC tendo a meu cargo a implantação nas escolas, fui vice-presidente da juventude centrista e, mais tarde, seu presidente durante 4 anos. Passei pelo Parlamento em 1985, como deputado substituto, fui posteriormente conselheiro nacional do partido, e depois, em 1992, candidatei-me à liderança do CDS, tendo ganho o Congresso em Março desse ano, no Hotel Altis (…)

Altis onde vai regressar, mas agora com a Nova Democracia…

(…) é verdade. Mas voltemos ao CDS. Um ano após a minha eleição começámos a preparar a sucessão do CDS criando o PP e em finais de 1993 fundamos o Partido Popular, o primeiro partido com representação parlamentar a assumir-se, verdadeiramente, como partido de direita.

Acto que foi considerado por muitos como o enterro do CDS…

É verdade, mas eu prefiro falar em sucessão. Não escondo todavia que entre o CDS e o PP iam as diferenças que permitiram ao Prof. Freitas do Amaral desfiliar-se e ao Dr. Ribeiro e Castro manter-se afastado.

Entretanto sai e funda a Nova Democracia.

Eu saio de Presidente do PP em Março de 1998, curiosamente na mesma data, no mesmo mês, em que tinha sido eleito 6 anos antes e em 2003 participo activamente na fundação da Nova Democracia..

- O bloco central destruiu a emoção e a paixão pela política e abriu caminho aos tecnocratas -

Acha que a estrutura partidária da qual faz parte um grande capítulo da sua vida e do qual guarda boas recordações ainda existe? O Sr. Dr. já lá não está, mas acha que essa estrutura ainda existe?

Não sei, eu penso que se calhar não existe lá como não existirá na esmagadora maioria dos partidos. Creio que a lógica da militância pura, existente de forma inquestionável em todos os partidos no pós 25 de Abril, deixou de existir a partir de determinada altura. O momento de viragem é o governo do bloco central. Até 1983 a política é vivida com imensa emoção no país. É evidente que há um partido revolucionário que não é alheio a isso, mas havia combate partidário puro. Sair de casa para participar em qualquer acção política era um desafio intenso. A partir de 1983 o governo de bloco central, coligação PS/ PSD, veio alterar totalmente isso. Os adversários passaram a funcionar como aliados, as alternativas sucumbiram perante as alternâncias e os desentendimentos previamente combinados passaram a ser a regra não escrita.

A política perdeu interesse?

Em muitos aspectos sem dúvida que sim. 1983 é o momento da viragem e a preparação para a entrada triunfal dos tecnocratas na política portuguesa.

Está a falar dos governos do Prof. Cavaco Silva?

Estou também a falar dos governos do Prof. Cavaco Silva, não há que o esconder. Habitualmente as análises não contemplam esta questão, mas o certo é que após o bloco central tudo foi diferente, para pior, na política portuguesa. Com a tecnocracia como pano de fundo procurou-se dar a ideia de que as ideias e o debate ideológico eram uma pura perda de tempo e o resultado conduziu a que a luta política fosse essencialmente centrada na “competência” dos intervenientes e menos, muito menos, nas ideias dos mesmos.

E isso foi negativo….

O resultado está à vista. Nada muda na essência, porque na essência quem promove a alternância é apenas a outra face da mesma moeda. Pode existir muita polémica, muita gritaria, mas no fim tudo e todos convergem para a mesma mesa….

- O Pacto MFA – Partidos foi substituído pelo Pacto do Bloco Central de interesses -

Falemos então da Nova Democracia. Ela é ou não uma força política de direita?

Bom no primeiro momento não se assumiu como tal. Fruto de variadas circunstâncias a Nova Democracia surge como um partido que recusa aquilo que designou de leitura simplista da política, espartilhada entre a geografia da direita e da esquerda, sem que essa classificação tivesse tradução valorativa. E nisso se afastava, num certo sentido, do Partido Popular. Este pretendeu, sem qualquer margem para dúvida, ser um partido da direita democrática, da direita moderna, que respondesse a um vazio claro que existia na vida politica portuguesa. O PP não fazia parte do sistema, na medida em que não subscrevia a lógica subjacente ao Pacto MFA – Partidos.

Está a dizer que essa lógica, em 1993, ainda se mantinha?

Sem dúvida. Não é por acaso que falo de “lógica”. O Pacto MFA – Partidos foi substituído pelo Pacto do Bloco Central de interesses. Interesses que convergem e que são determinados entre a classe dominante do regime. Essa classe dominante é constituída por pessoas do PS, do PSD e também do CDS. Ela partilha, entre si, os melhores postos da sociedade. No governo, na oposição, nas principais autarquias, nas administrações hospitalares, nas administrações de empresas públicas ou de influente presença do Estado, nos institutos públicos, a repartição é perfeita. Há até quem diga que essa partilha se estende a negócios que são salomonicamente distribuídos por certos gabinetes….

Está quase a falar de um Estado dentro do Estado…

Estou mesmo a falar disso. Há para aí uns quantos distraídos que pretendem ver em certas organizações o centro de um imenso e terrível poder, quando de facto deviam orientar as suas análises para a extensão concreta deste imenso Pacto do Bloco Central alargado (…)

Alargado?

(…) sim alargado, porque não nos podemos esquecer do CDS, ou de parte considerável de vários dos seus dirigentes. Há aliás uma versão moderna para designar este bloco central alargado (…)

Qual é?

(…) é o chamado “arco da governabilidade”. Foi criada para permitir a entrada do CDS na tertúlia das negociações.

Mas o PP, enquanto o Dr. Manuel Monteiro foi seu presidente, também negociou com o governo PS. Estou a lembrar-me do Orçamento de Estado…

É verdade, mas a negociação foi política. Apenas política. Comigo não se registaram acordos para lá daqueles que implicavam a negociação pura em torno das propostas orçamentais.

- O PP foi apenas tolerado pelo CDS. E enquanto tinha sucesso eleitoral -

E como era a relação do PP com o CDS? No fundo os senhores eram inquilinos do Caldas e o Caldas já existia.

A relação teve altos e baixos. O PP é tolerado dentro do CDS enquanto vence, enquanto tem êxito eleitoral. Mas em muito aspectos era quase um intruso dentro do CDS. O PP tinha uma linguagem nova e, muitas vezes, dentro da própria casa era considerado radical, populista, demagogo. Nós tínhamos uma forma nova de comunicar, como aliás ficou patente nas campanhas de 1994 e de 1995. Entretanto, fruto de circunstâncias várias, eu demito-me e quem me sucede, o Dr. Paulo Portas, começa a falar num primeiro momento em CDS-PP, para num segundo momento, só falar de CDS, assumindo aliás com toda a legitimidade o regresso ao passado, no que tem sido entusiasticamente acompanhado por Ribeiro e Castro.

Então volta a existir um vazio à direita….

Exactamente.

Mas se assim é o que leva a Nova Democracia a não querer ser, logo de início, um partido claramente de direita?

A queda do muro de Berlim e o desmoronamento do império soviético, conduziram a que muitos tivessem decretado o fim das ideologias, ou pelo menos das ideologias tal qual tinham sido escritas e proclamadas. Nesse sentido parecia ultrapassado, e até redutor, continuar a falar nos velhos moldes em direita e em esquerda. Surgia assim a ideia de que mais importante do que situar valores à direita ou à esquerda, era ter valores e trazê-los para a vida politica nacional…

Esse entendimento falhou…

(…) não sei se podemos dizer que falhou, mas de facto ele não correspondeu ao que todos desejavam. A realidade e as suas circunstâncias nunca podem ser menosprezadas no plano da acção política e a Nova Democracia teve efectivamente dificuldade em transmitir uma mensagem que não “casava” com o sentimento da maioria dos seus membros, talvez desde logo comigo próprio. Se eu me tinha batido pela existência de uma direita partidária parecia estranho aos olhos de muita gente que agora surgisse dizendo que a “classificação” não era relevante.

- O 2º Congresso da Nova Democracia marcou a mudança de rumo - Daí a mudança?

Daí uma reflexão serena e a aprovação, no 2º Congresso, em Aveiro, de um documento “Os Valores Políticos da Nova Democracia” que clarificavam o posicionamento ideológico do partido. Para além de clarificar, esse documento abria caminho para os passos que entretanto viriam a ser dados.

Tais como a proposta de Manifesto para a Direita?

Claro que sim, bem como a própria proposta para a realização dos Estados Gerais da Direita. Sem o Congresso de Aveiro não teríamos corrigido o tiro e sem o documento de que lhe falei não teríamos hoje condições para explicar a que Direita queremos pertencer e qual o significado que a palavra tem para nós. O Congresso de Aveiro permitiu definir um rumo e é em seu nome que estamos agora a caminhar.

Sente então que até Aveiro a Nova Democracia perdeu tempo?

Não digo isso, mas registei que quantos se bateram por um partido não identificado com a direita se afastaram após resultados eleitorais negativos, tendo até num ou noutro caso saído da Nova Democracia para aderir ao PS. Afinal os valores eram importantes, mas os votos não o eram menos…

Havia então uma grande confusão ideológica no seio da Nova Democracia….

Talvez, mas todos aprendemos com todos e a oportunidade de termos partilhado experiências com pessoas de elevado valor intelectual e ético nunca poderá ser considerada tempo perdido. Creio termos percebido que um partido é pensamento, mas também é acção e que esta se destina a pessoas concretas. Umas com formação académica, outras sem a escolaridade obrigatória; umas com vontade de pensar no futuro, outras apenas preocupadas em viver o presente. Todas essas pessoas são eleitoras, todas votam e todas têm o mesmo peso político. Não o perceber pode ser um exercício de grande desprendimento, mas é um testemunho de pouco realismo. A política é uma actividade competitiva, e competir na política significa captar eleitores nas suas ânsias, nas suas preocupações….

Quer então uma Nova Democracia voltada para a acção?...

A actividade política ao nível partidário é a síntese permanente entre pensamento e acção. Só pensamento conduz-nos a especulação constante; só acção conduz-nos a pragmatismo tecnocrático. O nosso desafio é agirmos em função de um pensamento claro, que nos diferencie mas que nunca descure a realidade em que nos inserimos.

- Há ainda um estigma contra a Direita -

Falemos então desse pensamento da Nova Democracia, o tal pensamento de direita, mas antes disso deixe-me perguntar o seguinte: não sente que é ainda politicamente incorrecto ser-se de direita ou pretender politicas de direita?

Reconheço que ainda há um estigma, um estigma muito grande por parte de muita gente em relação à direita. Isso é de tal forma assim que quem é de esquerda não tem nenhum problema em dizer que é de esquerda, enquanto quem é de direita prefere dizer: ” somos conservadores”, ou “somos liberais”…

Há medo da palavra?

(…) há um estigma terrível, que se mantém 32 anos depois da revolução. Você não vê na política activa quase ninguém a dizer: “eu sou de direita”, “estou aqui em nome da direita”. Fala – se do centro, do centro – direita, e deixa-se a palavra ser gasta pelos da esquerda que a continuam a usar para assustar ou amedrontar as pessoas, proferindo com total impunidade um conjunto de mentiras e falsidades, sobre a direita e os seus defensores.

Mas de quem é a culpa?

É nossa, dos que somos de direita. Dos que somos verdadeiramente de direita. Na verdade a esquerda portuguesa tem a “direita” que mais lhe interessa. Convém-lhes manter esta falsa dialéctica, para que a roda vá girando dando a impressão de competição ideológica. Nada de mais falso.

- Marques Mendes e Ribeiro e Castro não são de direita -

Falso porquê? Marques Mendes ou Ribeiro e Castro não são homens de direita? Não asseguram essa competição ideológica?

O Dr. Marques Mendes é um social democrata e o Dr. Ribeiro e Castro é um centrista democrata – cristão. Nem um nem outro são, ou querem ser, de direita.

Mas se Marques Mendes e Ribeiro e Castro não são homens de direita, tal como o não são o PSD e o CDS, que sentido teve convidá-los a participar nos Estados Gerais da Direita?

Para desfazer equívocos. É importante esclarecer, clarificar, mesmo que isso não seja vantajoso a quem gosta do sistema tal como está, ainda que se afirme contra a esquerda. Nós tivemos uma revolução de esquerda, tivemos depois um 11 de Março que conduziu a revolução de esquerda para a extrema esquerda e tivemos o 25 de Novembro, de 1975, que trouxe o regime para um imenso centro De então para cá, salvo o movimento gerado pela AD, em 79/80; a campanha de Freitas do Amaral, não digo o próprio Freitas do Amaral, em 86 e o PP de 93 a 98, não se verificou nenhuma vida à direita…

Está a dizer que o sistema parou no centro?

(…) estou a dizer que falta apresentar a direita, tal como ela é, despida de preconceitos, afastada de clichés, para que os cidadãos possam de facto fazer escolhas. Esse é um dos requisitos mínimos da democracia: a existência de reais alternativas. Sem elas não há democracia, há simulação de democracia.

- Temos de combater os preconceitos contra a direita -

Não teme que apesar de defender a direita moderna e democrática, muitas pessoas o identifiquem com o autoritarismo saudosista? Tem por certo presente a opinião que muitos têm de si a propósito das suas posições sobre a União Europeia.

Eu acredito na liberdade, a liberdade é um dos valores fundamentais para mim e é em nome desse valor, que eu sou de direita. Rejeito pois qualquer visão autoritarista.

Mas não nega a dificuldade na afirmação de um partido que se diga só de direita, sem referência ao tal espaço do centro…

Admito que se 32 anos depois a direita ainda continua a ser diabolizada por muitos, o começo não seja de grande facilidade, mas isso não nos pode impedir de a afirmar. Há muitos jovens livres que estão à nossa espera, tal como existem cada vez mais portugueses que se passam para o lado da abstenção por terem desacreditado do sistema.

Há quem tenha a ideia de que ser de direita é recusar a solidariedade social, demonstrando distância perante os mais pobres e os seus problemas. Ao contrário a esquerda responde com o chamado Estado social….

Ora aí está um preconceito contra a direita que a esquerda por comodidade e o centro por pura conveniência eleitoral, teimam em manter…

- Não sei o que é o Estado social -

Desculpe interrompê-lo, mas tenho de fazer – lhe a pergunta: rejeita o Estado social?

Não sei o que isso é… O Estado é uma criação do homem e foi uma criação tão forte que suplantou em muitas circunstâncias o próprio criador. De tal modo que temos assistido ao longo dos tempos à tentativa do Estado criar “homens novos”. Conhece por certo a expressão, bem como os seus autores, bem como os seus inúmeros percursores. A verdade todavia, a verdade crua e nua, é que em nome de tal ideia já morreram milhões de pessoas e outras tantas ainda vivem infelizes e na miséria. Se justiça houvesse esses idólatras do Estado e do igualitarismo estariam sentados no banco dos réus para serem julgados pelos violentos ataques aos direitos, às liberdades e às diferenças dos cidadãos…

Mas voltando ao Estado social…

(…) não podemos falar já do Estado social, sem equacionarmos o modelo de Estado em que acreditamos. Essa é uma armadilha para que a esquerda sistematicamente nos empurra, sempre que queremos falar deste assunto. Temos de nos entender sobre esta matéria. No tal documento “Os Valores Políticos da Nova Democracia” definimos o Estado como algo de útil e necessário. Útil e necessário ao Homem, claro está. Se o Homem criou o Estado foi para que este o servisse, não para o servir. Esta verdade tão simples é sistematicamente esquecida e em nome desse esquecimento regista-se uma adulteração do papel que foi destinado ao Estado desde que foi concebido.

- É preciso debater o modelo de Estado em que acreditamos -

Que modelo entende então para o Estado?

Defendo um Estado forte capaz de distinguir, sem ambiguidades, as funções que lhe cabem e que não podem ser desempenhadas por particulares, sejam cidadãos ou empresas, como a Justiça, a Defesa, a Segurança e a conservação do Território; das funções subsidiárias que deve desenvolver para que os cidadãos tenham igual dignidade e iguais oportunidades.

Cabe então na função subsidiária, aquilo a que muitos chamam Estado social?

Sem dúvida. Para que os que são efectivamente pobres tenham total oportunidade para o deixarem de ser. Esta questão é crucial. A esquerda quer acabar com a classe média e com os ricos, para justificar a existência do Estado social; eu quero dar combate à pobreza, incentivar à ideia de que devemos viver melhor, para que o Estado social não seja necessário. A subsidiariedade é aliada da liberdade individual, o Estado social é vassalo do socialismo.

- A diarreia legislativa prejudica o Estado de direito -

Não acha que as pessoas só vão entender o que acaba de dizer, quando puderem analisar propostas concretas…

Esse empreendedorismo da proposta tem levado a uma diarreia legislativa, que é tão grave para o Estado de direito, quanto a ausência de regras claras e simples. Eu entendo que o primeiro combate da direita moderna passa por desmistificar conceitos, contrariar expressões, destruir tabus, que se erguem como vacas sagradas no discurso político português. Isto implica um combate ideológico. Esse combate ideológico é tão oportuno, quanto indispensável. Sem combate ideológico que venha a sustentar as propostas, nada feito. A esquerda e os seus aliados do sistema serão sempre ganhadores, ganhe quem ganhar as eleições. E esses aliados também estão no PSD e no CDS.

Acha então que o combate tal como tem vindo a ser desenvolvido está errado?

Totalmente errado! É por isso que a direita deveria promover uma discussão aberta, sem qualquer tipo de receio, sobre o significado e alcance, hoje, de conceitos como: Estado social; igualdade; solidariedade; contratação colectiva; gratuitidade; impostos progressivos; habitação social; globalização; liberdade política; liberdade económica; propriedade privada; empresa; lucro; riqueza….

E o que conta ganhar com tal debate?

Uma clarificação sobre o conteúdo de cada uma das expressões, hoje no século XXI. A política tem de ser clara, para que saibamos onde votamos, em quem votamos e qual o sentido preciso do nosso voto. A ausência deste debate leva a que os cidadãos se sintam sistematicamente defraudados independentemente de votarem mais à “esquerda” ou mais à “direita”.

Porque sentem que é tudo igual..

Ora nem mais. Percebem depois do voto que tudo é mais do mesmo, apesar dos estilos, das imagens televisivas, dos discursos. Sem um debate ideológico prévio e atempado, não existe a possibilidade de criação de alternativas.

- Há hoje um novo contrato social -

Pensa encontrar muita gente disponível para esse debate?

Francamente ainda não. Este debate é tão incómodo para a esquerda, como para o PSD e o CDS. Se quiser ele é ainda incómodo para um significativo conjunto de pessoas, que embora apregoem o liberalismo são prisioneiros de luxo do Estado que tanto criticam. No fundo estes beneficiários do “novo contrato social” não estão minimamente interessados na mudança apesar de dizerem o contrário. Convencionam com o Estado as críticas públicas que lhe vão fazer, para de seguida com ele contratarem ajudas, subsídios, isenções ou benefícios fiscais, apoios, etc, etc.

- As Pescas, as Florestas e o Interior são prioridades nacionais -

Mudemos agora um pouco de assunto, para falarmos das suas mais recentes incursões no mundo das Pescas e nos Concelhos do Interior. Porquê esta aposta?

Porque defender as Pescas e lutar pelo desenvolvimento do Interior é conseguir ter um País mais rico. É tão simples quanto isto. As Pescas são um sector estratégico da nossa actividade económica e o Interior é o garante do equilíbrio nacional. Não entender isto é não entender Portugal. Tudo o mais que eu pudesse dizer não alteraria em nada o pensamento que lhe acabo de expor e por isso as Pescas, a Floresta e o desenvolvimento do Interior têm de ser causas políticas da Direita portuguesa.

O que significa que é manifestamente contra as actuais políticas do governo?

Com certeza, completamente contra, desde logo porque revelam autismo e falta de visão. Nós deveríamos ter, neste momento, uma política de repovoamento do interior e não uma política que convoca os cidadãos que ainda lá vivem a procurar o litoral. Quem assim procede, mesmo que de quando em vez evoque amor pelo interior, revela uma grande hipocrisia e um total falta de patriotismo.

Estamos a caminhar para o fim da nossa conversa, mas há ainda algumas perguntas que gostaríamos de lhe colocar.

Muito bem…

- A Constituição é um entrave à consolidação da democracia -

Pensa que a democracia em Portugal está consolidada?

Não, enquanto a actual Constituição estiver em vigor. Enquanto a chamada lei fundamental não for um denominador comum de todos os portugueses, sem excepção, não haverá verdadeira democracia. Desde logo porque a possibilidade dos partidos concorrentes, e dos que ganham as eleições, assumirem de facto o que são está posta em causa.

Essa é então a razão da proposta de uma Nova Constituição feita pela Nova Democracia?

Essa é efectivamente a razão de ser de uma proposta para uma Nova Constituição e não apenas de uma revisão, ainda que alargada, do actual texto constitucional.

Já falamos há pouco dos Estados Gerais da Direita que quer realizar. O que pretende com tal realização?

O que pretendo em primeiro lugar é que a direita, e quantos se reivindicam como tal, se confronte a si própria e que o faça antes das eleições.

O Prof. Marcello Rebelo de Sousa pensa que esse debate a tanto tempo de um acto eleitoral é um erro….

O Prof. Marcello Rebelo de Sousa não tem razão. A minha proposta não visa encontrar um programa eleitoral ou de governo; a minha proposta visa esclarecer o que é ser de Direita no Portugal do Século XXI. Primeiro as Ideias, depois a Política, só depois as Políticas ou seja as propostas. Eu pergunto: o Prof. Marcello é de direita? E se é que isso quer dizer? É assim tão difícil responder a estas perguntas?

- Os conservadores liberais são patriotas e universalistas -

Quem vai convidar a participar nesses Estados Gerais? Não corre o risco de só lá estarem pessoas da Nova Democracia?

Tenciono convidar pessoas que afirmam não ser de esquerda, mas não quero estar prisioneiro nem do mediatismo dos convidados, nem da quantidade das respostas de quantos entendam dizer presente. Estará lá quem queira participar. Sem dramas, sem pressões, sem segundas ou terceiras leituras….

Agora sim, mesmo para terminar: o que quer dizer conservador liberal? Nós estamos habituados a ouvir falar em conservadores, em liberais, em conservadores e liberais, mas em conservadores liberais não. É apenas uma questão semântica?

O meu amigo Diogo Pacheco de Amorim explicou há dias o que é ser conservador liberal. Fê-lo, na minha opinião, de uma forma brilhante quando se referiu ao casamento entre a tradição e a inovação. Tradição e inovação, num País com as nossas características. Os conservadores liberais portugueses são patriotas, são universalistas e são amantes da liberdade. São – no tal como o foram os homens das descobertas que deram a conhecer Portugal ao mundo e trouxeram o mundo até a Portugal. Nem só conservadores, nem só liberais. Por isso mesmo Conservadores Liberais.

Carta Do Direito Fundamental À Diferença

CARTA DO DIREITO FUNDAMENTAL À DIFERENÇA


1. Liberdade, Fraternidade, Diferença

Se há direito humano fundamental que os últimos duzentos e cinquenta anos têm progressivamente lançado no esquecimento, esse é o Direito à Diferença.
A Revolução Francesa escolheu por lema Liberdade, Fraternidade, Igualdade. A igualdade vinha em último lugar.

Apesar disso, o jacobinismo global nascido dessa revolução rapidamente esqueceu a Liberdade e a Fraternidade.

Quanto ao marxismo, que dominou largamente todo o século XX e que ainda hoje se encontra, subrepticiamente, presente na generalidade da teoria e da prática políticas, tentou, esmagando a Liberdade e a Fraternidade, impor a Igualdade. Milhões e milhões de mortos depois, os homens continuam diferentes.

E ainda bem que assim é.

A História política, económica e social dos últimos duzentos e cinquenta anos resume-se à progressiva ditadura do pensamento único igualitário em prejuízo da Liberdade exigível e da Fraternidade possível. Porque se a versão hard, pura e dura, do marxismo-leninismo é o hoje meramente residual, as suas várias versões soft continuam dominantes.

Só voltaremos a ser livres, verdadeira e fundamentalmente livres, quando entendermos, na sua essência e nas suas consequências, a escravidão sofisticada em que a filosofia e as políticas igualitárias nos têm vindo, insensível mas tenazmente, a mergulhar.

O respeito pela diferença é condição essencial ao respeito pela liberdade.

Quanto à fraternidade, é um sentimento apenas possível entre homens livres. E só há homens livres quando há respeito total pela sua diferença.

Contra a Esquerda e contra a velha Direita jacobina, a Direita moderna escolhe por lema Liberdade, Fraternidade, Diferença. Liberdade real e não liberdade formal; fraternidade consentida e não solidariedade forçada; diferença em liberdade e não uma igualdade apenas possível sob tutela permanente, ou seja, em escravidão.

2. As doutrinas igualitárias e o papel do Estado

A doutrina igualitária mais virulenta, subjacente aos regimes marxistas puros e duros, distribuía ao Estado o papel de “grande igualizador”. Os homens teriam de ser iguais “a bem ou a mal”: apropriação pelo Estado dos meios de produção, colocando um fim às desigualdades económicas; educação, desde a mais tenra infância, sob tutela do Estado, para pôr um fim às desigualdades culturais geradas pela educação no seio de famílias com tradições diferentes; implosão – ou explosão - das nações no grande big bang do internacionalismo proletário; formatação única das culturas e das civilizações pelo modelo único da utopia da sociedade sem classes, deram o resultado de todos conhecidos: porque cada homem é, intrinsecamente, distinto de qualquer outro, o resultado desta tentativa foi só um: o nivelamento pela morte de incontáveis milhões de homens na igualdade geométrica dos cemitérios. Quanto aos sobreviventes, esses continuaram diferentes. E conseguiram pôr um fim, ainda que a custo, ao caminho para o abismo.

Mas o velho igualitarismo jacobino foi retomado em versões menos virulentas, e é nessas versões que ainda hoje domina em parte substancial do mundo, nomeadamente entre nós, funcionando como base das teses e das práticas políticas dos partidos ditos socialistas e/ou sociais-democratas e, em parte, dos partidos democrata-cristãos. Destas teses, vertidas em programas políticos por todo o lado idênticos, e entre si sem diferenças de substância, fazem parte inúmeras medidas, todas elas tendentes a criar uma igualdade artificial. Entre elas há, apenas, diferenças de grau, na medida em que umas acentuam a necessidade de o Estado criar, essencialmente, condições de igualdade “à partida”, enquanto que outras estendem essa missão do Estado a uma permanente intervenção para que as condições de igualdade supostamente criadas à partida se vão mantendo ao longo da vida.

Parte substancial das políticas sectoriais defendidas por esses partidos são informadas por esse desígnio como uma rápida análise, mesmo superficial, rapidamente nos poderá mostrar. Citamos, de seguida, apenas algumas, a título de exemplo

3. Como tentar fabricar a Igualdade

Como medida tradicionalmente defendida e aceite para nivelar os homens “à partida” temos a de o Estado se assumir como prestador de serviços de educação gratuitos e universais. Não interditando a existência de um ensino privado, dificulta-o quer colocando sucessivas barreiras burocráticas à sua existência e desenvolvimento, quer não participando nos seus custos para os pais. É esta uma forma, “soft” mas eficaz, de retirar a tutela da educação dos filhos aos seus pais. Como medidas complementares temos a impossibilidade dos pais, não dotados de capacidade financeira para colocar os filhos em Escolas privadas, poderem optar pela escola pública da sua preferência, como a impossibilidade das escolas públicas escolherem livremente o seu corpo docente.

Várias são as medidas usadas para, através de uma acção permanente do Estado, tentar manter uma igualdade, sempre fictícia. São as mais usuais:

a) O imposto progressivo, tentando nivelar os rendimentos e penalizando quem mais riqueza cria para a comunidade. A Direita moderna defende uma taxa única.
b) O imposto sucessório, ainda hoje de taxa elevada em muitos países, utilizado com o mesmo fim do imposto progressivo, que a Direita moderna não aceita uma vez que penaliza, de facto, a liberdade de cada um dispor, como entender, aquilo que é seu.
c) A falta de liberdade de testar de quem tem descendentes: os pais não podem optar por deixar os seus bens ao filho ou filhos que entenderam, caso pretendam fazê-lo, ou optar por não testarem a favor do filho ou filhos. É uma forma artificial de igualitarização. Entendemos ser isso intolerável e defendemos a total liberdade de testar.
d) A progressão em carreiras por mera antiguidade, independentemente do mérito, dos resultados e da capacidade demonstrada. É uma forma de uniformização e de tratar por igual o que é diferente, que não é aceitável
e) A uniformização dos salários segundo o lema “a trabalho igual salário igual”, independentemente também do mérito, dos resultados e da capacidade demonstrada
f) A infinidade de limites jurídicos à fundamental liberdade de contratar entre partes, a pretexto de defesa “da parte mais fraca”. A liberdade de contratar entre partes é essencial para que possam ser consagradas, de forma diferente, situações diferentes.

Muitas outras situações existem, retiradas do dia a dia e consagradas na generalidade dos programas políticos, tendentes a criar uma igualdade artificial e, como tal, lesivas de um são desenvolvimento de uma sociedade de homens livres e diferentes

4. A única igualdade desejável para a Direita Moderna

O Homem surge, para a Direita moderna, como princípio e fim de toda a acção política. Este Homem, tal qual nós o entendemos, encontra, como pedra angular da sua estrutura - como homem e como cidadão - um binómio de valores entre si indissociáveis: Liberdade e Responsabilidade. E é sobre este binómio liberdade/responsabilidade que assenta, ou terá de assentar, a sua dignidade do homem.

Todos os homens deverão ser iguais em Dignidade. Mas apenas o serão se a todos for concedida a mais larga liberdade e exigida a total responsabilidade na utilização dessa liberdade. O fundamento último da dignidade humana encontra-se na liberdade e no uso responsável dessa liberdade.

A única igualdade que qualquer Estado tem a obrigação de promover, e a única que lhe deve ser permitido promover, é a igualdade em dignidade de todos os seus cidadãos. Mas, para isso, esse Estado terá de ser entendido e terá de se assumir, como garante máximo e último quer da liberdade de todos e de cada um desses cidadãos quer, perante cada um dos cidadãos, do uso responsável dessa liberdade por parte de todos os outros.

Para além disto ao Estado competirá apenas neste campo, e pelo contrário, garantir um espaço de autonomia a todos e a cada um dos cidadãos para que possam desenvolver, em liberdade e sem interferências ilegítimas, as suas personalidades e potencialidades.

5. Elogio da Diferença

Qualquer homem é único e irrepetível. E, sendo único e irrepetível, é diferente de qualquer outro. Não há dois homens iguais. A evolução das ciências da natureza nos últimos cem anos – e das ciências sociais que nas ciências da natureza se fundamentam – não tem feito mais do que confirmar a perfeita validade desta afirmação. Da mecânica quântica à psicologia evolutiva, passando pela biologia, pela etologia e pela genética, todas sublinham que a vida se estrutura sobre a diversidade, que a evolução se estrutura sobre graus de complexidade crescente e que a homogeneidade, a indiferenciação e a massificação são sintomas de uma irrecuperável entropia nos sistemas vivos, ou, dito de forma mais corrente, são degenerativas e preludiam a morte. Contudo, a estrutura organizativa vigente das sociedades e dos Estados contemporâneos continua assente em pressupostos diametralmente opostos, ou seja, as da incipiente e primária ciência do século das luzes.

O relativismo pós-moderno pode negar à vontade a validade intrínseca das ciências da natureza. Mas não é por isso que a realidade deixa de ser o que é. E a realidade é esta: cada homem recebe um património genético que é único; nasce integrado em famílias diferentes, que por sua vez se integram em comunidades mais alargadas, elas próprias com características que lhes são próprias, as nações. Por sua vez as nações, entre si diversas, radicam em civilizações, umas das outras distintas.

E, também aqui, é bom que assim seja, porque é a diversidade dos homens, das famílias, das nações e das civilizações que se encontra na base da evolução e do progresso. É tanto da conflitualidade como da complementaridade entre esses homens e essas comunidades sucessivamente mais alargadas que surge a inovação. A Diferença é, e sempre foi, criadora. Um mundo de homens exactamente iguais, a poder ser construído, seria um mundo logo estagnado, em breve condenado ao retrocesso e, a prazo, ao desaparecimento. A diferença entre os homens é o motor da História. E daqui directamente decorre que defendamos uma euro-integração contra uma euro-diluição, como defendemos um mundo globalizado contra um mundo massificado


6. Euro-integração versus Euro-diluição

A Europa, ela própria nascida da fusão entre duas tradições que se complementaram, a greco-romana e a judaico-cristã, foi grande enquanto as suas nações foram diversas e cultivaram a sua diversidade, fonte de conflitualidade e de tensão, mas também de complementaridade e de criação. Havia que diminuir a conflitualidade, e por isso a importância de uma integração que limasse arestas e permitisse a participação de todas as nações num projecto de contornos mais bem definidos, obedecendo a regras básicas, poucas mas claras; mas há que manter a complementaridade, logo o essencial da diferença das nações e dos homens que a integram. Mas integração não é, nem pode ser, diluição de todas as nações europeias, e de todos os seus cidadãos, numa solução aquosa e indistinta de europeus padronizados e todos iguais. É em nome do respeito pela diferença dos homens e dos povos, e pela identidade da Europa, que recusamos essa euro-diluição. Uma verdadeira integração, poderá levar a Europa a inverter o caminho da sua decadência. Mas uma diluição de todos em todos e de tudo em tudo, apenas poderá acelerar e tornar irreversível esse mesmo caminho

7. Globalização versus Massificação

O conceito de um mundo globalizado, na nossa opinião, pressupõe um mundo de homens diferentes, interagindo, e não um mundo de homens massificados, todos pobres numa irremediável igualdade, incapazes de trazer um contributo original e inovador. Um mundo globalizado é a vida. Um mundo massificado é a morte.
Se a globalização for entendida como um método global de nivelamento e de indiferenciação progressiva dos homens, das nações e das culturas, a Direita moderna é contra a globalização. Mas se ela representar, como até agora tem acontecido, uma maior e mais criativa interacção entre homens e culturas distintas, cada uma trazendo, na sua diferença, um contributo único e irrepetível, a Direita moderna é a favor dessa globalização. Os homens, as culturas e as nações não se podem encerrar em si próprias, mas devem-se abrir ao mundo na sua irrepetibilidade e na sua diferença; como não se podem apagar num melting pot global e indiferenciado.

O respeito pela Diferença é condição essencial ao exercício da Liberdade. E a Liberdade é condição básica de humanidade. Não pode haver acção política que não respeite a liberdade, porque seria uma acção política contra a essência do Homem que é, para a Direita Moderna, o alfa e o ómega de toda a acção política.
É esta a razão de uma Carta do Direito Fundamental à Diferença.


Teses Sobre A Direita Conservadora E Liberal

…Em Portugal, quer a tradição de Direita como a de Esquerda são seguramente anti-liberais …

Do meu contacto, através da imprensa escrita e falada, a ideia com que fico, é que não “aparece” uma clara linha divisória entre o que é a Direita Conservadora Liberal e as outras forças políticas, inclusive a Social-Democracia e a Direita não-Liberal. Em geral, a própria Esquerda e a Social-Democracia olham a Direita Conservadora Liberal como se de uma “qualquer” Direita se tratasse.

Em Portugal, quer a tradição de Direita como a de Esquerda são seguramente anti-liberais; idêntica, em geral, à tradição da Europa Continental, com excepção dos países do norte da Europa.


Os países do norte da Europa possuem uma tradição cultural muito particular; sustentada numa forte tradição cooperativa, numa tradição de responsabilidade individual muito forte, na qual predomina um sistema educativo centrado no educando (e não no educador) e numa monarquia “fraca” (não centralizadora) face à sociedade civil. Tudo isso acabou por dar origem, em meados do século XX, a uma estrutura e a uma praxis político-social que poderíamos caracterizar de próxima de uma esquerda de tipo liberal. O Estado é muito mais a representação de uma sociedade em cujo seio predominam relações sociais de cooperação do que a representação de algum tipo de corporação (política, social ou económica) que chama a si a governação da sociedade civil (dos “outros”), como parece surgir em outros países europeus. O Estado serve a sociedade civil e não ao contrário, e a forma como as elites políticas se assumem (sua remuneração e mordomias, seu comportamento social, etc.) revelam bem as diferenças com muitas das elites políticas europeias (nomeadamente, de como estas tratam o erário público).

O anti-liberalismo impregna o pensamento político e a praxis dos europeus, com a excepção dos anglo-saxónicos e dos povos do norte da Europa.

Por exemplo, embora só tenha tido acesso ao que veio a público nos órgãos de comunicação, o recente “Compromisso Portugal” revela muito mais sobre os princípios e teses dessa Direita Anti-Liberal do que sobre os princípios da Direita Conservadora Liberal; embora muitos deles possam ser abraçados por esta.
Também, o recente debate promovido pelo Dr. Sampaio sobre a necessidade de uma maior participação dos portugueses na sociedade, conseguiu não tocar nunca nos motivos que levam os portugueses a ser (conduzir-se como) cidadãos passivos. A tradição anti-liberal de estado e da sociedade portuguesa é tão intrínseca ao “nosso” pensamento e à “nossa” maneira de ser, que se fica incapaz de “ver” que é o próprio enquadramento conceptual e a forma de pensar um dado problema que está na sua própria origem.

A afirmação da Direita Conservadora Liberal passa pela definição (“criação”) de uma linha divisória com os “outros” e, em particular, com a Direita não-liberal (já que a Esquerda, em Portugal, sempre foi anti-liberal) – essa linha de demarcação, face aos “outros”, parece-me poder ser mais claramente definida na dicotomia entre liberalismo e anti-liberalismo, entre cidadania e anti ou não cidadania, do que na dicotomia existente entre Direita e Esquerda.

É no âmbito da clarificação do que separa a Direita Conservadora Liberal das “outras” perspectivas políticas de Direita e de Esquerda que se inscreve este Contributo. Ele limita-se a delinear algumas linhas de reflexão e de debate, quer relativamente a um possível programa de intervenção da Direita Conservadora Liberal quer quanto à prioridade dos temas a debater.


Sobre a Estratégia

Para o estabelecimento de uma estratégia de intervenção política, é essencial definir os objectivos a atingir e o tempo para os alcançar.

Quanto aos objectivos, parece-me que a Direita Conservadora Liberal, em primeiro lugar, pretende que o País se aproxime e se assuma política, social e culturalmente naquilo que constitui o quadro societário que a Direita Conservadora Liberal defende como o melhor para a sociedade portuguesa. Em segundo lugar, pretende poder assumir um papel importante nesse processo de transformação social, inclusive através da sua participação directa na governação do País.

Quanto ao tempo, parece-me que a Direita Conservadora Liberal não tem quaisquer hipóteses de ascender à governação do País ou dela participar, durante ainda vários mandatos.

Não creio mesmo que seja de seu interesse que isso ocorra, se não puder fazer passar um programa consentâneo com as suas Teses.

Ou seja, o desenvolvimento de acções políticas para chamar atenção sobre si, sem que estas suportem “continuidade”, acaba por representar um esforço algo inconsequente, e até contra producente (se, por exemplo, de algum modo se “colar” a si uma imagem, e até um “rótulo”, deformador do que realmente é a Direita Conservadora Liberal).

Parece-me que a Direita Conservadora Liberal tem necessidade de criar um espaço social próprio e o seu crescimento (e influência) efectuar-se-á à medida e conforme esse espaço social for também crescendo.

Segundo a minha opinião o primeiro grande objectivo da Direita Conservadora Liberal deveria ser criar um espaço social que a oiça e que repercuta as suas ideias a um espaço mais vasto. Essa “primeira” apresentação deveria dirigir-se a quem a “pense”, considerando que há concepções confusas, e até incorrectas, sobre o que é a Direita Conservadora Liberal e considerando que esta transporta em si “ideias de ruptura” face ao que é a tradição política portuguesa.

As elites intelectuais deveriam constituir a primeira prioridade para essa apresentação. Como se trata de elites e de intelectuais, eles mesmo se encarregarão de “ajudar” a Direita Conservadora Liberal na criação de um espaço social próprio de “massa” aonde esta poderá intervir mais tarde; mas mais …, com as suas questões, ajudarão a própria Direita Conservadora Liberal a aprofundar o seu próprio pensamento e a ajustar as suas Teses aos particularismos e especificidades da realidade social nacional.

Em segundo lugar, parece-me que essas “primeiras” Teses deveriam incidir preferencialmente sobre o que distingue claramente a Direita Conservadora Liberal de “todos” os outros partidos portugueses.

Há poucas dúvidas, quanto à distinção entre a Direita e a Esquerda. Mas o mesmo não ocorre entre a Direita Conservadora Liberal e a Direita não-liberal. Como acima afirmámos, a tradição portuguesa de Direita é a da Direita Não Liberal, pelo que quando os portugueses ouvem falar de “Direita” (tenha ela associado ou não, no seu nome, algum “popular”), o que “vêem” é essa direita tradicional: uma Direita Anti-Liberal.

Ora a Direita Conservadora Liberal distingue-se precisamente da direita tradicional portuguesa porque é Liberal (já que a direita anti-liberal portuguesa também é conservadora). É na compreensão e divulgação do que significa Liberal e das suas implicações sobre a praxis social e política que a Direita Conservadora Liberal se pode afirmar, quer como uma concepção política inovadora (em Portugal), quer como um novo Partido.

Em terceiro lugar, parece-me que a “compreensão” de quaisquer Teses de tipo político-social dificilmente se pode estruturar, numa primeira fase, sobre um plano de pensamento abstracto, a não ser que se dirija essencialmente a um mundo académico, de especialistas, o que não é inteiramente o caso.

Com isso pretendo dizer que as Teses a apresentar deveriam estabelecer-se em confronto directo com a realidade social portuguesa concreta (a que é o resultado concreto de uma governação anti-liberal, mais ou menos próxima da Esquerda). A partir daí, poder-se-ia deslocar para um plano de abstracção maior, em conformidade com as “perguntas”, que inevitavelmente irão surgir – o meio intelectual, aonde o debate se iniciará, irá com certeza “solicitar” uma conceptualização mais elaborada do que o simples confronto com a praxis.

A comparação com o comunismo, embora importante, parece-me que hoje “toca” já pouco aos portugueses; a nossa realidade social, resultado de governações marcadamente anti-liberais, constitui um referencial bastante mais objectivo, concreto e de fácil entendimento, para a definição do que é a Direita Conservadora Liberal. Note-se que sob o ponto de vista da Direita Conservadora Liberal (e, diga-se, para os portugueses) não há diferença entre a governação do PS e a do PSD.

Deste modo, marca-se também a linha que separa as suas Teses e a política “real” desenvolvida pelos “partidos de governo” em Portugal (de tipo centrão, inspirados na social democracia e na esquerda democrática, ambas marcadamente anti-liberais).

Em quarto lugar, a Direita Conservadora Liberal deveria reservar um espaço especial de diálogo com as Religiões, em particular com a Igreja Católica, uma vez que há pontos de confluência significativos, e as Religiões representam e simbolizam Valores Éticos e Praxis Sociais que, ao longo dos séculos, foram “formatando” a nossa “cultura ocidental” e dando coesão social às nossas sociedades.

Em quinto lugar, parece-me que as “primeiras” Teses deveriam focar-se naquilo que são as divergências de princípios entre a Direita Conservadora Liberal e as políticas “reais” dos “partidos de governo”.

Sem fazer entender o espírito da Direita Conservadora Liberal pode tornar-se perigoso o que “se apanha” aqui ou acolá sobre a sua posição relativamente a questões menores (embora importantes) da sociedade portuguesa – por exemplo, não me parece eficaz que a Direita Conservadora Liberal deva “correr” atrás de “casos de minoria”, como caracteristicamente faz o Bloco de Esquerda e o CDS e, muitas vezes, os restantes partidos.

Finalmente, e em sexto lugar, a Direita Conservadora Liberal poderia constituir-se como centro de promoção e de incentivo de iniciativas civis (políticas, sociais e económicas), que constituam práticas que ampliem a capacidade de exercício da cidadania em Portugal e sejam exemplo de intervenção social liberal.


Sobre o Programa

Dado que é o anti-liberalismo que caracteriza a Direita e a Esquerda tradicionais e o centrão político português, parece-me que as primeiras Teses a desenvolver e a debater, pela Direita Conservadora Liberal, deveriam circunscrever-se essencialmente àquilo que distingue o liberalismo do anti-liberalismo.

Como a diferença entre liberalismo e anti-liberalismo se situa na maior ou menor capacidade de exercício da cidadania, ou mesmo na sua ausência ou bloqueio, as Teses primeiras deveriam centrar-se em torno da cidadania e da não-cidadania, e em torno da forma como o estado e a actual organização societária portuguesa são fonte de bloqueio à cidadania.

Considerando, como Tese primeira, o enfoque na Cidadania, os temas a abordar deveriam desenvolver-se em torno da concepção do poder do estado, do estado e administração pública, dos impostos e do exercício da cidadania em si, uma vez que é aí que se estrutura politicamente a possibilidade de exercício da Cidadania numa Nação.

Dentro do quadro acima referido, parece-me que as “primeiras” Teses a desenvolver e a apresentar, deveriam centrar-se sobre as “causas” dos principais problemas do País que, claramente, constituem formas de organização social opostas às Teses defendidas pela Direita Conservadora Liberal, ou seja constituem fonte de bloqueio ao exercício da cidadania.

Como acima já refiro, não procurarei ser exaustivo (nem o conseguiria ser), mas apenas apontar “linhas temáticas” de reflexão e de debate (divulgação).


A – A organização do estado

1º- A primeira grande diferença (e fonte de clivagem) entre uma concepção liberal e anti-liberal (quer à Direita como à Esquerda) é a inexistência de cidadania em Portugal, provocada por uma organização do poder de estado que bloqueia essa cidadania à maioria e a torna quase exclusiva de quem “vive” no estado, com e sob o estado.

Esse carácter discricionário do direito de cidadania, e a ineficiência e “abusos” daí resultantes, são mais que muitos para poderem fundamentar e justificar a Tese fundamental da Direita Conservadora Liberal: o “direito à cidadania”.

Eventualmente, isso obrigará a “reintroduzir” o debate em Portugal sobre o que é cidadania.

Em Portugal está muito divulgado um conceito “errado” de cidadania, um conceito “ajustado”, convenientemente, ao carácter anti-liberal da sociedade existente, já que se restringe a alguns direitos passivos de cidadania (como a liberdade de imprensa e o “direito ao protesto”) e, se confunde, frequentemente, cidadania com boa educação, civismo, solidariedade social, igualdade, obediência passiva ao estado, etc.

Habitualmente, eu respondo à pergunta “o que é cidadania?” (que me é colocada frequentemente) começando por definir o conceito do que lhe é oposto; ou seja, o que significa a “não-cidadania”.

Essa resposta dá, pela negativa a resposta ao que é a cidadania e claramente se denota que o que, em Portugal, se designa, habitualmente, de cidadania são algumas, poucas, consequências possíveis do exercício do direito de cidadania, mas não são, em si, cidadania.

O carácter anti-cidadania e, como tal, anti-liberal do estado português, estão bem patenteados na própria forma de organização central do estado e das autarquias, bem como na concepção e na forma de intervenção da administração pública portuguesa.

2º- Portugal possui um Poder de Estado estruturado num Legislativo e num Executivo cuja promiscuidade anulou a separação efectiva entre esses dois poderes e, consequentemente, anulou a subordinação legislativa do Executivo ao Legislativo e o controlo deste sobre aquele. O Executivo Português é um Executivo “não limitado”, já que o Chefe do Executivo é realmente, na prática, o Chefe do Legislativo.

A replicação desta concepção a nível local e regional, significa que o estado, no seu todo, possui um poder ilimitado e incontrolável – como o estado não é um conceito abstracto mas sim concreto, porque assumido por “pessoas organizadas”, então o poder do estado acaba por cair de forma ilimitada nas mãos de “alguns” (objectivamente, de quem controla os partidos).

Isso não significa que não haja em todo o sistema alguma democraticidade, contudo ela é manifestamente insuficiente e perigosa, uma vez que os mecanismos internos de equilíbrio de poder não conseguem operar.

3º- A forma de votação constitui outro tipo de bloqueio ao exercício da cidadania.
A votação em listas eleitorais, impedindo uma relação directa entre o votante e o votado, impede o desenvolvimento do sentido de responsabilidade e de representação entre o votado e o votante e impede-o de exigir responsabilidades ao votado (“seu” representante). De facto, a única responsabilidade que se desenvolve, no sistema eleitoral português, é entre o votado e o chefe político que o integrou na respectiva lista eleitoral; é a este que tem de prestar contas e não ao “seu” votante (a quem se diz “representar”).

A quase impossibilidade legal de apresentação de independentes às eleições, constitui outro grave constrangimento ao exercício de uma cidadania activa e centra nos partidos o único caminho de acesso ao poder político (ou seja, à representatividade dos cidadãos no estado).

4º- De facto, o sistema de votação existente acaba por não ser ainda menos democrático, porque os cidadãos estão amarrados à vontade prévia dos chefes partidários e não a um escrutínio prévio, entre cada cidadão e os seus eventuais representantes. Como a escolha dos propostos às eleições se faz exclusivamente sobre essa vontade prévia, realmente a democraticidade conseguida pela ulterior decisão dos cidadãos, em votação universal, acaba por ser profundamente condicionada.

Realmente, a democraticidade de um tal sistema ainda é obscurecida pelo facto de ser duvidosa a própria democracia no seio dos partidos.

A forma de organização interna dos partidos deveria ser objecto de debate público.
Por exemplo, não me parece que a forma segundo a qual um partido se organiza internamente devesse ser inteiramente da livre iniciativa do respectivo partido (por exemplo, se as votações são secretas ou com o braço no ar), uma vez que o processo eleitoral nacional se “inicia” no seio de cada partido.

A dúvida que acabo de proferir relativa à existência dessa “liberdade” no seio de cada partido não é anti-liberal, como pode parecer à primeira vista. A forma como os partidos funcionam internamente é de interesse público, num sistema eleitoral como o português, pois marca decisivamente o carácter mais ou menos democrático do processo que conduz ao Poder do Estado.

O que pretendo salientar é que o exercício do poder público (do poder do estado) tem o seu “início” e a sua “organização” numa esfera que se constitui hoje como “privada e corporativa”; o “início” da definição de quem governará, faz-se no seio dos partidos, em condições que estão muito longe dos olhares e da intervenção pública. Isso não teria significado de maior se, depois, os cidadãos pudessem “dar a volta” ao que foi decidido corporativamente no seio dos partidos; mas, não o podem fazer. Se as alternativas de decisão dos cidadãos são previamente “cozinhada” no seio dos partidos, de facto a governação de Portugal está aí a ser “cozinhada”, sem intervenção e controlo dos cidadãos. Ou seja, em conclusão, a organização interna dos partidos e os procedimentos aí adoptados não deveriam estar ao exclusivo critério dos seus “sócios”, na medida em que é no seu seio que se delineia o Poder Público – a única força coerciva legitimada para “obrigar” os portugueses.

No limite, o sistema político português acaba por ser fortemente permissivo a poderosos grupos políticos e económicos, nacionais e estrangeiros (e, hoje, eles são numerosos e fortemente actuantes), que queiram “investir” na tomada de poder em Portugal, sem que os cidadãos possam fazer absolutamente nada contra isso. Não estou a “brincar”; o exercício do poder de estado é uma questão de segurança nacional e a forma como se ascende ao poder do estado não lhe é, nem nos pode ser, indiferente.

Se associarmos a forma de organização do estado, que o torna um governo “não limitado”, com o tipo de votação existente e o (não) papel de controlo da Assembleia, facilmente se conclui que Portugal não é exemplo de um país democrático (a monarquia inglesa acaba por ser mais republicana que a “república” portuguesa).

Este carácter anti-liberal e anti-cidadania do estado português não se alterou nada depois do 25 de Abril, aliás piorou – o que alterou foi uma forma de solidariedade social que é hoje mais ampla, mas em grande parte porque sustentada na Europa.


B – A economia

A economia portuguesa reflecte naturalmente as consequências de um tal estado:

1º- O desenvolvimento económico do país caiu quase inteiramente nas mãos do estado.

A participação “autónoma” dos cidadãos portugueses no desenvolvimento económico nacional tornou-se marginal (o que não significa que não seja importante).

Como mais de 40% do PIB português caiu nas mãos do estado, pouco sobra para investimento fora do âmbito da sua iniciativa (grande parte do que sobra nas mãos da sociedade civil tem de ser para o consumo, necessário à preservação da vida e à “reprodução” das famílias portuguesa – as poupanças são inexistentes).

Tal situação “amarra” os cidadãos e as empresas privadas ao estado; ou “fazem” com ele, ou não “fazem” com ninguém.

Mas, não contente com isso, o estado português arrebanha para os seus projectos e políticas o que ficou por arrebanhar na sociedade civil. Para tal, “orienta” muito dessa riqueza nacional (sobrante) para os projectos que ele define como importantes à economia nacional ou para os interesses das corporações empresariais a si associados (através de incentivos como subvenções, isenções, facilidades administrativas, co-financiamentos público-privados, financiamentos a fundo perdido, reserva de mercado, etc.).

Por exemplo, a que título “de interesse público”, existe uma lei que isente fiscalmente os lucros de venda de património imobiliário se ele for re-aplicado de novo em património imobiliário?

Parece-me que, contra os interesses nacionais em iniciar um rápido deslocamento do investimento em imobiliária para outros tipos de investimentos mais re-produtivos, pretende-se “amarrar” os cidadãos aos interesses da Imobiliária.

Este é um bom exemplo de como os estados anti-liberais (corporativos) e fortemente interventores e manipuladores da economia nacional, podem cair rápida e facilmente na situação de se tornarem “marionetas” de interesses organizados, estranhos e até opostos do interesse nacional (mesmo se inconscientemente).

Mas tudo isso ainda não lhe bastou! Pouco escapa à esfera dessa administração! O estado português apetrechou-se de uma administração pública que regulamenta “tudo” ao pormenor e intervém inclusive na forma de gestão que o sector privado tem de realizar. O gestor, privado, acaba frequentemente por ser um “administrador para-público”, a quem cabe observar regras administrativas definidas pelo estado e gerir uma carteira de relações com vista a assegurar a “protecção” da sua empresa.

Aliás, a própria propriedade privada é tratada em Portugal com muito pouco respeito; não constitui realmente um absurdo, duvidar se a cultura portuguesa possui um conceito correcto de “propriedade privada” (o mercado do arrendamento é um bom exemplo disso).

A propriedade privada, em Portugal, é frequentemente vista como uma “braço” do estado (que este manipula a seu prazer) e não se constitui propriamente como um direito limitador do poder do estado (não confere direito a cidadania).

Em geral diz-se: “não é crime, o que não está na lei” – subentendo-se, então, que se “pode fazer tudo” desde que se não vá objectivamente contra a lei. Mas, em Portugal, “só se pode fazer o que está na lei”; e pior, só se pode fazer com o estado.


2º- Mesmo aonde poderia haver algum liberalismo económico, como no mercado, o estado intervém nele activamente e, de certo modo, destrói-o, enquanto tal.

Muitos sectores da actividade económica, são sectores condicionados, quer quanto ao acesso a estas actividades quer quanto aos preços aí praticados, assim como quanto à discricionariedade face aos impostos praticados, às isenções concedidas, etc. Poderemos pois concluir, sem “ofender” os economistas, que Portugal não possui verdadeiramente um mercado (eventualmente, poderíamos baptizar esse “mercado português” de “mercado de estado” ou de mercado condicionado).

Porém, à que registar que, quando o estado português podia manipular o valor do escudo a seu bem prazer, o mercado interno ainda era mais fictício.

3º- “Privatizar”, num tal quadro político e económico e num tal “mercado”, está claramente longe de significar aumento de capacidade de exercício de cidadania e de liberalismo.

Trata-se de uma “privatização” que direita anti-liberal adora e a esquerda não tem de ter grande medo (a não ser que se preocupe com a eficiência daí resultante, pois esta será possivelmente pior e, tais serviços, serão ainda mais incontroláveis na mão desses “privados” do que se directamente na mão do estado).

Nas situações em que a “privatização” mantém o estado como responsável pelos pagamentos (às ditas empresas privatizadas) dos serviços por estas prestados aos cidadãos, então estamos perante o que podemos designar de “brincar às privatizações e aos privados”. De facto, esses “privados” nunca se sentem responsáveis perante os cidadãos a quem prestam serviços; sentem-se responsáveis, sim, perante o estado, que é quem lhes paga e lhes assegura que nunca operarão realmente em condições de mercado.

Tal processo não dinamiza o mercado, enquanto espaço de livre iniciativa e de cidadania; apenas transfere a execução de uma responsabilidade, que continua pública, para uma entidade que passou a ser “privada”. Nem mesmo a eficiência económica e social aumentará, porque continuam a não estar “presentes” as condições que a impõem: um verdadeiro mercado.


4º- Em que medida este tipo de “privatizações” e de subvenções (a fundo perdido), suportadas com o dinheiro de todos os cidadãos portugueses (realmente, apenas pelos contribuintes líquidos), constituirão um procedimento de “boa” ética social ao transferir a riqueza criada por muitos portugueses para a mão de alguns?

5º- Neste quadro, só os “estrangeiros” (incluindo a reentrada de capitais nacionais “encobertos” como capital estrangeiro) actuam de forma relativamente liberal, em Portugal, porque se assumem como independentes do estado.

Mas num quadro social com é o português, “eles” rapidamente aprenderam que também podem fazer bom uso a seu favor desse estado: porque não colocar os portugueses a financiá-los e a assumirem o risco? Pois bem, não é raro que o investimento estrangeiro (em oposição aos dos nacionais) só se instale em Portugal com “facilidades” a que raramente têm acesso os investidores nacionais (inclusive, chegam a subordinar-se a legislação específica e não à legislação geral a que os nacionais têm de “obedecer”).

Ou seja, o estado anti-liberal português tem efectivamente procedido de tal forma que acaba (consciente ou inconscientemente) a “transferir” riqueza interna, nacional, para as mãos de investidores estrangeiros, sem garantias efectivas de sustentabilidade e de reprodução interna que compensem tal “sacrifício” nacional. Que haja incentivo ao investimento estrangeiro, entende-se; que esse incentivo seja diferente do que é dado aos nacionais não se entende, mas quando ainda são os nacionais a financiar o investimento estrangeiro a fundo perdido, não se entende em absoluto.


C – A administração

A questão que se coloca a nível da administração não é, por exemplo, torná-la mais eficiente (informatizá-la, por exemplo). Numa tal lógica de estado, tornar a administração mais eficiente, significa aumentar a anti-cidadania e o anti-liberalismo; significa tornar a incompetência mais eficaz e a depredação económica ainda mais rápida.

A administração tem sim de ser colocada ao serviço de outros fins e ser reformulada nesse sentido; tem de ser colocada ao serviço da cidadania e não contra ela.

De certo modo, os “partidos de governo” transformaram a administração pública na sua base eleitoral. Não os preocupa o aumento dos seus efectivos (porque são mais os que votam “ao centrão”), a não ser quando isso coloque em causa o próprio “sistema” que os sustenta – como, aliás, está agora a acontecer.

Contudo, a resposta a esta “crise” (absolutamente inevitável) tem-se norteado pela preservação dessa base de apoio social, pois as contenções orçamentais e uma ou outra medida no sentido do ligar o utilizador ao pagador, apenas têm como objectivo “salvar” o sistema e não corrigi-lo.

Por exemplo, o aumento dos custos de saúde, a pagar pelos cidadãos, representa realmente uma “dupla tributação”, pois os impostos mantêm-se (aliás elevaram-se) e passou-se a ter de pagar mais por serviços que antes eram “gratuitos”.

Os aumentos de impostos e de “mil e uma” taxas só tiveram como fim assegurar a manutenção do nível de despesas já alcançado pelo estado e preservar as suas “funções” e a sua dimensão “redistributiva”, e não estruturar e financiar uma nova concepção do papel do estado na sociedade portuguesa.

Na realidade, esses aumentos só pesaram sobre os “contribuintes líquidos” (que ficaram mais pobres, ainda) e não sobre os “beneficiários líquidos”. Através do aumento de impostos e de uma ou outra contenção de menor importância, estes vêem o seu estatuto (“direitos adquiridos”) e perspectivas preservadas por mais uns anitos (em salários, reformas, mordomias, subvenções, isenções, co-financiamentos, etc.). Tal sistema está pois muitíssimo longe de “dar os anéis para salvar os dedos”; realmente os “contribuintes líquidos” continuam a pagar-lhes os anéis – estes sim, estão a ficar sem os dedos.

Para a Direita Conservadora Liberal, se é mau haver serviços gratuitos universais, é ainda pior obrigar a pagar esses serviços sem haver diminuição de impostos – isso significa, realmente, acréscimo de perda de cidadania e empobrecimento, ambos induzidos pelo estado.

O combate a esta Frente de Beneficiários Líquidos dos Impostos (que associa os sindicatos da administração pública) vai ser das lutas mais difíceis da Direita Conservadora Liberal.

É certo que essa Frente integra apenas verdadeiramente as elites públicas e “protegidas” e não os 700 000 funcionários públicos, que como a sociedade civil “pagam” o sistema.

Contudo, muitos dos representantes desse imenso funcionalismo público “confunde-se” nessa Frente e o “separar de águas” torna-se muito difícil.

É aqui que a Direita Conservadora Liberal se aproxima das posições do PCP e do BE; a reforma de um tal sistema não passa pelo aumento do sacrifício de quem já é desprotegido e paga o sistema.

Se fizermos recurso a conceitos do pensamento político de Esquerda, dir-se-á que está nessa Frente Anti-Liberal o Inimigo Principal da Direita Conservadora Liberal.

Não é possível combatê-la de frente. A Direita Conservadora Liberal, segundo a minha opinião, deveria fugir a esse combate directo sempre que possível; deveria dirigir-se preferencialmente aos cidadãos civis, às não elites públicas e às suas instituições (inclusive à Igreja e ao mundo empresarial independente e consciente dos novos desafios que a globalização transporta), dirigir-se àqueles cujas actividades, pelas suas características, privilegiam o pensamento racional e científico (são independentes) e dirigir-se aos que são “nacionalistas” e patriotas. Só a “minagem” (no sentido positivo) do pensamento anti-liberal da administração pública (em sentido lato), através da divulgação e do debate sobre as nefastas consequências que têm acarretado para o País, inclusive para a sua soberania e para a sua segurança nacional, poderão criar espaço ulterior a uma apresentação mais universal e sustentável do pensamento da Direita Conservadora Liberal.

Isso não significa que se deva fugir a esse confronto; pelo contrário, deve-se realizá-lo com coragem e clareza de pensamento, mas quando a iniciativa ao confronto for “deles” (e sem dúvida que o farão).

No domínio da administração pública é essencial defender não só a diminuição das áreas de intervenção do estado, mas também e simultaneamente, uma desregulamentação global de grande parte das actividades económicas e sociais. É necessário que se retorne ao “não é crime, o que não está na lei”; é necessário dar espaço de iniciativa aos cidadãos, à sua criatividade e à inovação (técnica e social).

Deve ser deixada à livre iniciativa dos cidadãos e ao mercado a contractualização das suas relações. Os portugueses devem poder fazer “tudo”, se não forem contra a lei, e não só poderem fazer o que “está na lei e com o estado”. O estado deve servir a cidadania e protege-la e não se constituir como corporação de interesses (mesmo se abstractos) contra a cidadania. O estado deve constituir-se como expressão da cidadania e intervir nesse sentido.

Por exemplo, no presente estado de intervenção omnipresente da administração pública, o resultado da diminuição de impostos reflectir-se-ia, com certeza, no aumento do consumo e não do investimento privado. Porque acontecerá isso?

Uma das causas, é porque é extremamente difícil implementar qualquer actividade económica em Portugal. Não se trata de formalizar a criação, mais ou menos depressa, de uma empresa, mas sim o ter de “seguir” um esmagador sistema de regras e procedimentos administrativos e praticar uma gestão fortemente “condicionada” e num mercado distorcido pelo próprio estado. Os gestores privados portugueses são mais gestores de relações com o estado do que, verdadeiramente, gestores.

Até os próprios técnicos oficiais de contas estão ao serviço do estado e não das empresas ou dos cidadãos que os contratam – não há um único país liberal em que isso ocorra e, mesmo, nos países anti-liberais isso raramente acontece.

Os relatórios e dados que as empresas privadas têm de apresentar periodicamente às repartições públicas (inclusive, um simples bar ou uma creche) são verdadeiramente assustadores. Aliás, não creio mesmo que tais “montanhas” de dados possam ser tratados pelo estado, apesar de ter tantos funcionários – isso revela que os próprios sistemas de controlo públicos estão mal concebidos.


D – A solidariedade social

A solidariedade social, que opera como justificativo de um tal estado (o legitima) e até de uma administração pública tão pesada e omnipresente, tem de ser combatida pelo carácter de “burla” nacional em que se constituiu.

Essa solidariedade social orienta-se para apoio preferencial à administração pública (integro os políticos profissionais e as empresas públicas neste conceito) e não para servir a todos os portugueses e, muito menos, para transferir riqueza dos mais ricos para os mais pobres.

Compare-se o aumento dos salários médios, nos últimos 10/20/30 anos (por exemplo), da sociedade civil com os da administração pública e das empresas públicas. Compare-se igualmente os salários médios dos quadros de topo aí praticados.

Compare-se os aumentos médios das reformas da administração pública e da sociedade civil.

Compare-se os direitos sociais, em vários domínios, entre uns e outros.

Claramente se verá que estamos perante um embuste; a “solidariedade social” acabou por ser para quem menos precisa e não para os que mais precisam.

Compara-se as despesas internas de muitos órgãos de solidariedade social com o que realmente “redistribuem” e veremos que, frequentemente, se está perante a criação de emprego público “fictício”.

Aliás, seria de admirar que assim não fosse, quando afinal quem “manda” é um estado plenipotenciário e omnipresente, anti-liberal e não condicionado, e sustentado num centrão de votantes concentrados na administração pública.

Não se coloca em dúvida a solidariedade social, como é óbvio. O que se coloca em dúvida é a seriedade e a eficácia de como ela esta a ser efectuada – por vezes parece que o “dinheiro” é visto, por quem o aplica “em nome de todos”, como se “nascesse de árvores” e não como o “suor” dos portugueses.

No fundo, a solidariedade social tem justificado a transferência de riqueza da classe média (que mal a ganha, entrega-a ao estado) para algumas elites e, marginalmente, para apoio a alguma pobreza.

Apesar de tão pesados impostos e taxas dos vários variados tipos, antes do início desta crise, cerca de 2 milhões de portugueses eram classificados como pobres (segundo critérios internos; pelos padrões médios europeus, o número de pobres é bem maior).

Estou convicto que parte significativa da pobreza nacional é criada e fomentada pelo pesado nível de impostos e taxas que caiem sobre todos os portugueses e que, seguidamente, tem de recorrer à dita segurança social.

A troco de quê, pagam tanto os portugueses (segundo as minhas contas, por cada 100 euros, cada cidadão da classe média entrega ao estado entre 65 a 70 euros, ao longo da sua vida)?

A questão não está em “destruir” a solidariedade social; a questão é que a “solidariedade” tem de ser solidariedade e não fonte de privilégios descabidos, face à situação de quem afinal os tem de pagar.

Por outro lado, a ineficácia da solidariedade social está a pesar em toda a economia nacional; todo o “suor” dos portugueses mal aplicado, ou ineficientemente aplicado, impede o seu investimento em objectivos sociais mais úteis e eficazes.


E – O Sistema judicial

Claramente o sistema judicial é uma caricatura do que é a Justiça, do que é o decoro e a ética – e só estou a exprimir aquilo que ouço aos próprios trabalhadores da justiça.

Mas parece-me que mais que actuar sobre o “interior” do sistema judicial, o que é prioritariamente importante é torná-lo independente do Executivo. Não há verdadeiramente democracia sem sistema judicial eficaz e independente.

Os juízes não são funcionários públicos iguais aos outros. Eles simbolizam a ética pública e da sociedade ao mais alto nível, eles asseguram a legitimidade da coação a que o estado (a comunidade) submete todos os cidadãos por igual e, nisso, asseguram a própria coesão social e o “sentido” dessa coesão. De certo modo, eles asseguram e dão corpo à Unidade que deve existir entre o estado e os cidadãos e entre estes – eles legitimam a confiança social que deve existir entre todos numa vida em comunidade (em sociedade).

A Justiça tem de se assumir como garante da aplicação da Lei.

Quando “partidos do governo” chegam ao ponto de propor tribunais específicos para os políticos, não é um “bom” sinal; inclusive, não é um bom sinal para a preservação da coesão social nacional.

Não conheço com profundidade o que ocorre em outros sistemas judiciais, no entanto parece-me que a independência do sistema judicial nacional talvez passe por uma muito maior ligação ao Presidente da República e à Assembleia da República do que ao Executivo, cujo poder é já “incontrolável”

O próprio Orçamento da Justiça e dos órgãos judiciais deveria ser proposto por estes directamente à Assembleia da República e não pelo Executivo.

A Justiça deveria ser merecedora de um amplo debate nacional; muito mais do que de um pacto de regime.


F – A Educação

O que ocorre com a educação em Portugal deveria ser considerado um “genocídio”; não um genocídio físico, mas sim um genocídio de “almas”.

Ante do 25 de Abril, poucas pessoas tinham acesso a um sistema de ensino que, contudo, era um sistema bastante mais competente e eficaz que o actual.

Depois do 25 de Abril, “descobriu-se” que o País não precisava de quadros técnicos de base nem médios, transformou-se todo o ensino até ao 12 ano em ensino não profissional e abriu-se o acesso a todos a todos os níveis de ensino (até universitário, uma vez que os sistemas de acesso permitem a entrada de todos desde que houvesses vagas).

O acesso generalizado ao ensino foi a única medida democrática e pró-liberal que foi tomada.

Rapidamente, “arrependidos” com tal democratização do ensino, parece que se resolveu “voltar atrás”. Como, não podendo já colocar os alunos na “rua”, o que seria politicamente incorrecto (e não dava votos), fez-se descer o ensino a níveis de incompetência inimagináveis e “obrigar” os alunos a frequentarem a escola do local de residência – não fossem os filhos daqueles que nunca tiveram acesso ao ensino, misturar-se com os “seus”!

Passar a ter esta ou aquela “habilitação” deixou de ser função do que se “aprende e sabe” (nem se está interessado nisso) e passou a ser uma questão de se “estar sentado numa sala de aulas” durante uns anos.

É verdade que, nos últimos anos, algumas mudanças importantes têm sido tentadas para “reverter” tal processo.

Mais que a incompetência, ou tão grave como ela, é que hoje grande parte da juventude (e até da sociedade) não prestigia o conhecimento nem tem uma perspectiva adequada do que é conhecimento e rigor científico (tanto nas áreas das ciências físicas como humanas). Obter um diploma é muito mais uma questão política (leis que deixam “passar” de ano) do que de trabalho e conhecimento; ou seja, o próprio “conhecimento” e a sua veracidade cientifica é muito mais uma questão de política do que de competência “para fazer” (é evidente que há excepções, felizmente).

Associado a isso, um sistema de ensino centrado no educador (e não no educando), como ocorre em Portugal, induz não só uma educação que “não ensina” como não educa a “auto-aprendizagem”.

O facto da administração pública continuar tão incompetente e ineficaz apesar de possuir a maior percentagem de licenciados e até de pessoas com o 12 ano, mostra bem o que se andou a “formar”.

Evidentemente, não é lançando mais meios em estruturas “incompetentes” que estas, por si só, se tornam mais competentes.

Haver 40 000 licenciados sem emprego, em Portugal, não me admira; admirar-me-ia é que tivessem emprego. Se pensarmos que esses 40 000 desempregados licenciados foram, em grande parte, encaminhados para Universidades e para os cursos que tiraram, pelo próprio estado português, é de perguntar o que e como foi isso possível e qual a sua responsabilidade para que isso esteja a acontecer.

No fundo, isso acaba por ser um bom (mau) exemplo do que acorre quando o estado “quer ir a todas”; o exemplo dos países comunistas (de sociedades centralmente planificadas) deveria tê-lo evitado, mas não.

As “equivalências” por anos de serviço em equivalências académicas, como as proporcionadas pelos anos de serviço público, é mais um exemplo de que as “habilitações” (diploma) são mais uma questão legislativa do que de estudo e “saber fazer”; que, afinal, o salário que se aufere não depende de competência específica alguma, mas da lei apropriada.

Os concursos públicos, sustentados em exames e curricula, podiam ser fonte de ajustamento de “habilitações” reconhecidas (e isso faz-se nos países anglo-saxónicos – aonde há professores universitários e doutoradas com o 12 ano). Mas fazê-lo por simples acto administrativo, sem alguma ligação ao “saber” e ao “saber fazer” equivalentes, é desprestigiar a “habilitação” e, pior, é considerar que o “saber” correspondente não existe ou não é importante.

A ex-URSS abriu as Universidades aos operários; mas isso durou muito pouco tempo. Rapidamente constataram que o acesso às Universidades tinha de se sustentar em conhecimentos sólidos, que tinham de ser adquiridos no secundário. Os comunistas europeus nunca “brincaram” com a educação e, por isso, estamos hoje tão mal colocados para competir com eles, nesta Europa alargada (o que não ocorreu em Cuba, por exemplo).

O que se passa com a Educação e a Formação Técnico Profissional, em Portugal, é gravíssima. Segundo a minha opinião é o problema mais grave do País; e só não o coloco em primeiro lugar nas preocupações da Direita Conservadora Liberal porque não acredito que um tal estado possa alguma vez resolvê-lo – enquanto o País não for efectivamente democrático e republicano (com os poderes legislativo, executivo e judicial separados e independentes) não creio que possa haver uma resposta eficaz ao problema da Educação.

Os países comunistas europeus fizeram-no, mas numa lógica social que é inaplicável a Portugal.

É verdadeiramente criminoso o que se está a fazer com o futuro dos nossos filhos. Ocupá-los durante os primeiros 25 anos de vida (quando as suas capacidades de aprendizagem são máximas) a fingir que estudam, é criminoso. Sem duvida nenhuma, isto vai-nos “cair em cima”; aliás, já está a cair.

Mais que em tudo o resto, estará aqui a nossa perda de soberania. As elites nacionais (parece que) ainda não entenderam que não estão só a dar um tiro no pé, estão a dá-lo na sua própria cabeça.


Cidadania e Impostos

Segundo a minha opinião é no conceito de Cidadania que está a maior debilidade da sociedade portuguesa, é aqui que mais nos separamos dos Países Desenvolvidos e Democráticos, mesmo daqueles que também possuem um marcado peso de anti-liberalismo.

Estou convicto que questões históricas e culturais fizeram com que os países do norte da Europa (inclusive, a Alemanha) tivessem desenvolvido um sentido de responsabilidade e de participação social do indivíduo muito forte (no qual o protestantismo não terá sido alheio, com certeza).

Em geral, os países pequenos da Europa (Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Suiça, etc.) são países muito mais liberais que os restantes “grandes” países europeus (e daí lhes provem a sua força).

Portugal “seguiu” os “grandes” anti-liberais em vez de ter seguido os “pequenos” liberais. Contudo, segundo a minha opinião, a pequenez do País e da sua população proporcionaram ao estado português que se acabasse por assumir, na prática, ainda mais anti-liberal que os “grandes” países.

O 25 de Abril veio reforçar essa tendência e tradição; em oposição, ao que se passou em Espanha, aonde a iniciativa autonómica, a iniciativa privada (nunca nacionalizada) e a do cidadão nunca permitiram que o estado central assumisse, em Espanha, o poder incontestável, plenipotenciário e omnipresente que adquiriu em Portugal.

As autarquias representam alguma “afronta” ao estado central, em Portugal, mas replicam, elas mesmo, uma concepção tão ou mais anti-cidadania que a do estado central (pelo menos este é mais “visível”).

O cidadão português é um cidadão esmagado. Como o filósofo José Gil diz o português “tem medo de existir” (só não acredito, é que a culpa seja toda de Salazar!).


Ligação às Instituições Civis

A – Ligação à Igreja

Há um conceito, dito republicano, que localiza algum tipo de intelectualidade (pretensamente mais séria e “objectiva) no “pensamento e numa praxis” laica ou mesmo anti-religiosa.

Parece-me que, desde a Revolução Francesa, esta questão continua por resolver nos países não protestantes, pois é nos países católicos que a laicidade assume uma marcada (diria até, exacerbada) importância política, como é o caso de Portugal.

Os países do norte da Europa, inclusive a Alemanha, e os anglo-saxónicos possuem uma “religiosidade” socialmente muitíssimo activa e “visível”. A participação social das instituições religiosas estende-se por vários domínios, é ampla e pública, embora suportada, directa e essencialmente, pelos cidadãos e não pelo estado.

Mas, o que pretendo chamar a atenção é que, apesar da existência desse pensamento e de uma praxis social consentânea (que sem dúvida terá alguma fundamentação histórica), não nos podemos esquecer que as sociedades humanas, todas elas impreterivelmente, são Identificadas e Identificam-se a si, mesmas, pelos seus valores éticos, pela sua Cultura e por praxis sociais objectivas, cuja representação e simbolismo estão maioritariamente contidos e são preservados (eternizados) como reportório da Religião (ou Religiões) praticadas por essas respectivas sociedades.

Ou seja, a Religião constitui, em cada sociedade, uma fonte essencial de identificação e de coesão social, de “orientação” do dia a dia das pessoas e das comunidades humanas e, em geral, sempre esteve mais perto e “a favor” das pessoas e das respectivas comunidades do que os respectivos estados. A Religião acaba por constituir uma “emanação” e uma manifestação da própria vida em comunidade e, frequentemente, representa a própria comunidade, em si – representa a comunidade naquilo que nela se eterniza.

Evidentemente, só estou aqui a salientar o que da Religião é a relação “terrena” com o indivíduo e a comunidade e não a relação com Deus, embora ambas se correspondam.

Historicamente, as Religiões sempre desenvolveram uma intensa relação e diálogo com o Indivíduo e o seu papel na sociedade e assumiram uma particular intervenção na promoção da solidariedade no seio da comunidade (muitíssimo antes de algum estado o ter feito). A própria intermediação Divina, simbolizada pelas Religiões, traduz-se (não exclusivamente, evidentemente) numa praxis social norteada por valores essenciais à existência de vida em comunidade e à sua coesão, e essa responsabilidade assume-se no plano da responsabilidade individual (do indivíduo perante Deus).

Nesse sentido, a Igreja (e, em geral, as Religiões) têm uma postura liberal porque se trata de uma responsabilização de tipo liberal (do indivíduo), embora seja uma responsabilidade com vista à coesão e desenvolvimento da comunidade. Trata-se de uma responsabilização que visa a auto-responsabilidade.

O diálogo entre a Direita Conservadora Liberal e a Igreja coloca-se, pois, não só ao nível do conceito que, nas duas, o indivíduo assume perante si e perante a sociedade mas também porque a própria coesão social (a vida em comunidade) se deve sustentar em Valores Éticos e Espirituais que a Religião preserva e “faz cumprir” e que a Direita Conservadora Liberal também defende. Ou seja, a Direita Conservadora Liberal e a Religião possuem um entendimento muito próximo (ou mesmo coincidente) sobre o papel do Indivíduo na sociedade e de como esta deve servir a nossa Humanidade.

O humanismo liberal é um humanismo intrinsecamente religioso, enquanto que o “melhor” humanismo do estado é um humanismo laico e, frequentemente, até é um humanismo anti-religioso.
Note-se que, pela sua própria natureza, estado e Religião, representam “coisas” diferentes, embora com frequência o estado procure instrumentalizar a Religião em seu benefício. Porque têm fins e interesses diferentes, segundo a minha opinião, o humanismo laico não tem, até agora, conseguido “servir” a comunidade humana, pois rapidamente se tem desvirtuado numa relação administrativa e coerciva, externa ao indivíduo e à própria comunidade de indivíduos, e é sentida frequentemente como algo imposto de “fora” (e, até, como impostora). O humanismo laico não é auto-responsabilizante, como é o humanismo religioso.

Aliás, a “crise” de valores do ocidente, muitíssimo mais marcada na Europa continental que no resto do mundo dito ocidental, é segundo vários investigadores essencialmente derivada de um humanismo laico, que respeita muito pouco a Memória dos povos, os “seus” valores éticos e a “sua” praxis social – realmente, acaba por ser um humanismo “modista” (porque sujeito à moda) e homogeneizante, ao sabor dos votos. Como se trata de um humanismo do estado, ele “vinga” pela força coerciva do estado e porque sobre uma Religião por si amordaçada. Claramente esta situação é muito mais marcada no sul que no norte da Europa, pois as religiões protestantes não se deixaram amordaçar tanto como a religião católica; aliás, as religiões protestantes preservam uma intervenção social activíssima (associada a uma cidadania muito activa), que se estende por vários domínios como a saúde (centros de saúde, hospitais), à educação (desde creches a universidades e centros de estudos avançados), solidariedade social, combate à pobreza e apoio ao desenvolvimento, promoção de associações cívicas, etc. As Religiões protestantes são uma fonte de cidadania e de promoção à cidadania.

Parece-me que, em geral, o estado europeu não entendeu o significado da “separação” entre a Igreja e o estado, quando afinal acaba por se pretender substituir à própria Religião e impor uma laicização a comunidades humanas que, não só, não são laicas como não querem ser laicas (e, de facto, não o podem ser). O debate que teve lugar relativamente à inclusão ou não de uma referência à Religião Cristã na introdução da Constituição Europeia é disso exemplo.

Aliás, a forma como o estado europeu está a tratar a laicidade, parece-me estar a descaracterizar a própria Civilização europeia e a sua coesão interna, enquanto comunidade; por um lado, “laicidade” não deve significar “contra a religião” e “liberdade de religião” também não significa “sem religião”. O estado é laico, mas as pessoas, que dele fazem parte e representa, não são laicas.

É lamentável, e grave, que este tipo de laicidade como anti-religião, se assuma muitas vezes como pretensamente derivada do pensamento científico; a ignorância do que é Religião e Ciência é devastadora e aterradora.

É nesse sentido (embora, não o seja exclusivamente) que eu afirmo que a Direita Conservadora Liberal deve preservar e desenvolver um diálogo amplo e aberto com a Igreja Católica. A Igreja Católica é a Instituição que melhor representa os portugueses, a sua cultura e os seus valores e aspirações éticas (tenha a Igreja disso ou não consciência, esteja ela mais ou menos “amordaçada” para o fazer). Por outro lado, a Direita Conservadora Liberal quer-se constituir, no plano político, como representante esclarecido, sério e honesto, das aspirações, dos direitos, dos valores desses mesmos portugueses.

Parece-me que a própria Igreja tem necessidade de uma afirmação social mais consentânea, não só, com a representatividade que possui em Portugal (e que tem vindo sucessivamente a ser esmagada e amordaçada) mas também com a responsabilidade social que ela possui efectivamente para com os cidadãos portugueses.

O diálogo com a Igreja não se deve pois realizar porque esta, com o seu “poder”, possa ajudar à conquista de votos. Isso seria tentar persistir na instrumentalização da Igreja (o que tem ocorrido ao longo de séculos), mas nunca seria um bom caminho a seguir para a Direita Conservadora Liberal, uma vez que negaria a sua própria essência (os fins não podem nunca justificar os meios). Esse diálogo deveria existir porque, sob o ponto de vista conceptual e ideológico, a Igreja é a Instituição civil portuguesa que com maior facilidade e sentido de responsabilidade pode interagir com a Direita Conservadora Liberal.

Evidentemente, um tal diálogo não significa que ele não deva ser estendido às restantes Religiões existentes em Portugal, em especial às Cristãs.

A divergência possível entre a Direita Conservadora Liberal e a Igreja Católica estará eventualmente na forma centralizada com que a Igreja Católica vê a sua actuação na sociedade – hoje, bastante menor que ontem mas, mesmo assim, muito mais que as Igrejas Protestantes.

De facto, há uma grande desconfiança de como algo se pode “dirigir-se” numa dada direcção sem ser sob a ordem de um “comandante”. Tal desconfiança tem razão de ser; contudo, isso não ocorre deste modo em sistemas complexos adaptativos como o são as sociedades humanas. Apesar de todas as desconfianças, a realidade social dos países liberais mostra bem que não é preciso um “comandante” plenipotenciário e omnipresente para que “todos” caminhem e caminhem de forma ordeira, eficaz, criativa e responsável.

Não sei quais os contactos existentes entre a Igreja Católica portuguesa e a Igreja Católica dos EUA, do Canadá ou da Austrália, mas seria interessante e muitíssimo frutuoso, mesmo para a Direita Conservadora Liberal, desenvolver um diálogo tripartido entre estas instituições – acho inclusive que seria interessante a Direita Conservadora Liberal pedir esta ajuda à Igreja Católica portuguesa e dos EUA para uma reflexão conjunta, de âmbito teológico, sobre o “liberalismo como pressuposto de realização do Homem” e sobre “humanismo religioso versus humanismo laico”.


B – Ligações às Universidades e Instituições de investigação social

Uma parte do debate que a Direita Conservadora Liberal terá de desenvolver, é a nível conceptual.

Todos temos consciência que quando se fala em Direita Conservadora Liberal ou em qualquer outro tipo de direita, o que se vê é “medo”; “medo” de um passado que parece não ter sido bem entendido e caracterizado. A Direita tem esse pecado original, mas a Direita Liberal está-lhe associado, apesar de nada ou pouco ter a haver com ele.

Por outro lado, a Direita Conservadora Liberal defende valores e conceitos que, frequentemente, me parece que não são bem entendidos pelos portugueses, mesmo a nível de alguns especialistas. Os conceitos de liberdade, de cidadania, da separação objectiva dos poderes do estado (sistemas de poder e contra poder, de equilíbrio de poder, etc.), o papel social do mercado e a da moeda, o corporativismo e o cooperativismo, etc. – todos eles, conceitos “importados” – parecem-me, frequentemente, conceitos pouco entendidos. Os portugueses possuem, interiorizada, uma cultura anti-liberal, anti-cidadania, e frequentemente não têm disso consciência, nem sabem e admitem que é possível “pensar e fazer de forma diferente”; muitos dos conceitos “importados” (porque não “produzidos” pela nossa realidade social) são ajustados à realidade interna (forma de pensar e agir) e muitas vezes acabam por ser pálidas imagens do que representam esses mesmos conceitos aí aonde foram “descobertos”.

Por isso me parece que é essencial iniciar o debate aí aonde as pessoas possuem intensas preocupações científicas, intelectuais e sociais e estão disponíveis para “ouvir, pensar e contestar”.


Iniciativas Pró Cidadania

O índice de livre associativismo em Portugal é baixíssimo. Muitas das associações que se criam, acabam por ser desconhecidas do público e, de facto, nada fazem – a não ser, ir buscar subsídios ao estado (do qual realmente acabam por depender e “servir”).

É evidente que Impostos tão elevados transformaram os portugueses em cidadãos cada vez mais pobres e com cada vez menos possibilidades de assumir iniciativas autónomas e independentes do estado.

Sem dinheiro, não se pode ter iniciativa para nada; as energias de cada um, restauradas, dia após dia, são para continuar a persistir numa sobrevivência precária e para continuar a pagar impostos a alguém, que diz que “toma conta” de nós e dos nossos filhos, e que diz que isso é para o “nosso” bem.

Quando Jorge Sampaio ou Cavaco e Silva fazem apelo à iniciativa civil, só podem estar a brincar!

Mas, infelizmente, não estão a brincar. Não estão a brincar, porque não têm uma clara consciência que pessoas pobres não podem ter iniciativa e ainda menos têm consciência que é o próprio estado que as empobrece. Pessoas pobres, numa sociedade profundamente burocratizada e “inibidora” de toda a iniciativa (a não ser das elites “protegidas”), nada podem fazer, a não ser tentar continuar a sobreviver e a continuar pagar impostos ou, então, têm de “fugir” (imigrar).

Os “ferraris” e os “patrol” não serão nunca substituídos por um empreendorismo diferente, porque não só continuará a vir o dinheiro de aonde ele veio para os pagar como continuará a vir a respectiva “protecção”.

A questão da cidadania e da sua participação coloca-se com premência, ao nível do nosso sistema societário.

É evidente que Jorge Sampaio e Cavaco e Silva têm razão, é evidente que a sua preocupação com a cidadania constitui o cerne de um grave problema estrutural da nossa sociedade, mas se não se olhar para as suas causas profundas ficaremos pelo “conversa e pelas boas intenções”. Para tal, é preciso deixar de ter medo que milhões de portugueses pensem e ajam, é preciso acreditar na cidadania e que daí virá bem para todos.

Em Portugal, só o Estado ou as entidades a quem ele entrega o dinheiro dos impostos, podem tomar iniciativas socialmente significativas. Para além dos estrangeiros, são muitíssimo poucos os portugueses que o podem fazer de forma autónoma e independente do estado.

Apesar de tudo, penso que é possível à Direita Conservadora Liberal ajudar na promoção de associações de cidadãos com vista à sua participação em vários domínios, inclusive de carácter económico.

A extrema pobreza da classe média portuguesa aconselha a que se olhe o cooperativismo, tipo nórdico, como uma hipótese interessante de modelo associativo. O recurso à Internet e o cooperativismo criam um novo espaço de cidadania a explorar.

Quelhas Mota

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