27 novembro 2006

Política E Religião Neste Mundo

Nos Estados Unidos não há uma igreja oficial mas a Religião está presente em toda a sociedade. Exemplo disso é que o Presidente termina a sua tomada de posse com o juramento perante a bíblia e as palavras «so help me God». O país apresenta, no entanto, uma relação entre Política e Religião bastante sui generis, em que a segunda se encontra directamente envolvida nas chamadas “guerras culturais” (aborto, eutanásia, casamento de homossexuais, etc.) entre esquerda e direita, ou entre “liberais” e conservadores. Mas a liberdade religiosa prevista pela constituição na sua primeira emenda visa especialmente impedir a criação de uma religião oficial, por razões históricas ligadas aos conflitos religiosos no Reino Unido, enquanto protege a liberdade de expressão a todos os níveis, incluindo o religioso, da interferência dos poderes públicos ou do poder político.

Os países onde a influência do marxismo mais se fez sentir, especialmente os países latinos do Sul da Europa, são aqueles onde a pretensa neutralidade do Estado e a imposição de uma pseudo religião ateia se verificam. Significa isto que sob o argumento de se permitir a liberdade religiosa, acabou por se impor a vontade do Estado (ou mais exactamente a dos que a definem) e confinar a Religião para o domínio privado, limitando a liberdade de expressão dos indivíduos (em clara oposição ao que prevê a constituição norte-americana) e forçando a “passagem para a História” das tradições culturais enraizadas nos povos.

Nestes países o fenómeno religioso é muito mais tolerado, por vezes de uma forma desdenhosa e condescendente, do que valorizado. Continua a ser desculpado pela ignorância e simplicidade do povo, que ainda não foi banhado pelos raios iluminados do “progressismo”. Mas estes detentores da «verdade absoluta» não deixam de se preocupar com as populações e por isso velam para que a Igreja esteja o mais possível confinada a espaços reduzidos. O seu voluntarismo levou à criação de Estados onde o controlo democrático e a responsabilidade individual são desprestigiados em nome do interesse colectivo e do “laicismo” iluminado. A caridade religiosa, antes criticada, foi agora “recuperada” através de subsídios estatais que promovem a inactividade, a perda de competências e a desagregação de famílias, incentivando as mães solteiras. Ao contrário do que se passa no Norte da Europa, ou nos EUA, criaram condições para a permanência de elevadas taxas de desemprego e de desemprego de longa duração, onde as pessoas são ocupadas em inúmeros programas estatais sem interesse, e em que temporariamente fingem esquecer a situação em que se encontram.

Nos países do Sul da Europa, como França, Itália, Espanha e Portugal, a taxa de desemprego é mais elevada e isso não é sinal que o efeito pernicioso da Religião se faça sentir mas sim de que é errada a opção por um estatismo “laicista” militante que se sobrepõe aos interesses dos indivíduos e das populações. Com a ascendência do socialismo a política ”oficial” foi-se cimentando progressivamente um sentimento de repulsa anti-igreja, em que a “crença” na neutralidade do Estado se transformou numa pressão social contra a dimensão pública do fenómeno religioso.

Os exemplos da prepotência “laicista” são muitos e alguns bem recentes, pois a História continua actual só que agora num contexto democrático. A recusa da menção de Deus e da influência do cristianismo no preâmbulo do projecto da Constituição Europeia, o chumbo de Rocco Bottiglione para Comissário Europeu, a proibição do uso de véus ou de cruzes em locais «públicos» em França ou a polémica das cruzes nas escolas em Itália e em Portugal são tudo versões actuais que confirmam a atitude “fracturante” e radical que caracterizou a ascendência da ideologia socialista/marxista e que demonstram a importância que esta ainda tem. A aplicação dos ideais marxistas nas sociedades europeias traduziu-se pela oficialização da intolerância face às religiões e da limitação da liberdade de culto dos indivíduos.

(Excerto)

Ricardo Pinheiro Alves

In Nova Vaga, nº 5

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