27 novembro 2006

A Direita Das Direitas

… A Direita cultiva a liberdade e a responsabilidade pessoal, perante a sociedade civil e a comunidade política, e promove um forte sentido de independência nacional, relativamente ao qual define a sua estratégia vital e a sua relação com as demais Nações …

A pluralidade das direitas é um dado unanimemente aceite. A tal ponto que, ao epíteto, tantas vezes arremessado com sentido pejorativo, quase sempre se acrescenta um adjectivo, para carregar ou atenuar o tom.

O problema histórico recente das direitas não tem sido a multiplicidade, mas sim a divisão, que é o que, de facto, atenta contra a unidade. Entre discernir e combater, a política e os acontecimentos, à luz da sua mundividência, ou abdicar de pensar, conformada e satisfeita com a ditadura cultural e política imposta pela esquerda, a Direita andou dividida nas últimas décadas. Até se guerreou por razões pessoais.

Superar as divisões no respeito pela multiplicidade para reforçar a unidade da Direita, exige uma volta às raízes, uma definição, ou redefinição, dos seus fundamentos.

E estes começam por ser antropológicos ou filosóficos – em todo o caso metapolíticos – e assentam no realismo da condição humana, também por outros conhecido como pessimismo antropológico, querendo com isto significar que reconhecemos no homem real, comum, fraquezas, debilidades, limitações, que não é perfeito, nem vive num mundo perfeito. Consideramos a existência humana incontornavelmente marcada tanto pela imperfeição e pela contingência, quanto pela capacidade de superar a sua particularidade e se universalizar.
É igualmente denominador comum à Direita, que essa contingência e imperfeição, que envolve a existência humana, não decorrem originariamente das estruturas históricas da sociedade, mas sim da própria natureza humana, ao contrário do que pretendia Rousseau.

A Direita vê nessas estruturas sociais – família, associações profissionais e culturais, municípios e Nação – uma afinidade e uma continuidade com a natureza humana, uma exigência da natureza social de cada homem, e não invenções históricas de “tempos obscuros” – como se a lucidez e a perfeição assistissem em exclusivo, desde a noite dos tempos, aos homens de hoje. São estas estruturas que integram cada homem na sociedade e lhe permitem, mais facilmente, superar a sua particularidade e se universalizar.

A Direita é, assim, anti-utópica: recusa claramente as utopias, sejam elas o “bom selvagem”, o igualitarismo de todas as formas de vida e de classe, a sociedade sem classes, a liberdade absoluta, o mundo perfeito, o paraíso terrestre ou, mais recentemente, o fixismo climático. E, consequentemente, recusa todos os mecanismos políticos, duvidosos e manipuladores, ao serviço dessas utopias, tais como a luta de classes, a demolição ou redefinição das estruturas históricas da sociedade, o providencialismo estatal, o catastrofismo ambientalista e o pânico climático.
Historicamente, talvez tenha sido no que toca ao papel do Estado que as direitas mais divergiram. Porém, mesmo as mais estatalistas nunca pretenderam substituir ou demolir estruturas históricas como a família, as associações profissionais e culturais, os municípios e as Nações, como o fez, e faz, a esquerda.

É comum à Direita a primazia e o respeito pela pessoa humana e pela iniciativa privada. A Direita sabe que o Homem não muda na sua essência. O que pode mudar, e muda, são os detalhes e as circunstâncias da vida e o conhecimento que deles se tem. Essas circunstâncias podem ser tais, que a Direita deva proclamar explicitamente aquilo que está implícito na sua mundividência: que o ser humano concreto não é subordinável, involuntária e inocentemente, a lógicas e leis do mais forte, isto é, o respeito pela dignidade humana desde a concepção à morte natural. A Direita proclama a primazia e a anterioridade da iniciativa privada na ordem económica e social, enquanto consigna ao Estado um papel subsidiário e supletivo. Pois ainda hoje, em matéria de ensino e de saúde, a ideologia esquerdista em vigor impõe exactamente o contrário.

A Direita cultiva a liberdade e a responsabilidade pessoal, perante a sociedade civil e a comunidade política, e promove um forte sentido de independência nacional, relativamente ao qual define a sua estratégia vital e a sua relação com as demais Nações.

Pode haver várias direitas, mas só há uma Direita.

Uma Direita Nova, muito antiga.

Tão antiga como o próprio Homem.
Manuel Brás
In Nova Vaga, nº 6

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