27 novembro 2006

A Direita Do Povo

… esta alternância (do exercício do poder do estado) quando sistemática, deixa de ser compreensível, na medida em que voltar a uma ilusão anterior como se ela não tivesse sido razão de desilusão, não faz sentido …

Tem-se verificado em Portugal nos últimos 30 anos, um fenómeno que é simultaneamente curioso e estranho, e que reside no facto do poder executivo ser alternadamente exercido pelos mesmos dois partidos políticos (PS/PSD), ainda que com uma ou outra variante de ocasião, como se de facto não existissem, como existem, outras opções. O eleitorado vai variando então a sua escolha, optando por votar num ou noutro, sendo que essa alternância entre estes dois partidos mais não será do que uma reacção emotiva e natural de descontentamento com um dos partidos favorecendo quase sempre o outro. No entanto, esta alternância quando sistemática, deixa de ser compreensível, na medida em que voltar a uma ilusão anterior como se ela não tivesse sido razão de desilusão, não faz sentido.

O que nos leva a questionar: qual a razão de ser desta atitude, considerando que o eleitorado é ele próprio o principal visado das (más) opções que toma? Ora a resposta afigura-se deveras complexa, e quanto mais vamos percebendo o sistema, mais nos apercebemos da sua complexidade. Muito resumidamente, desde logo, o eleitorado é um “mercado” que é condicionado pelas técnicas de marketing, ainda que político, que tem como objectivo vender um determinado produto/partido. Nesse sentido, os diferentes governos, vão exercendo essa “propaganda”, utilizando os meios colocados ao seu dispor (TV, rádios, jornais), exercendo nestes a sua influência, influenciando. Para tal, vão distribuindo estrategicamente os seus homens de confiança, fazendo-o neste pressuposto e não necessariamente pela sua eventual competência para desempenhar o cargo, em lugares chave desses mesmos meios.

A primeira consequência, é então o domínio pelo partido que exerce o poder desses meios de comunicação/empresas públicas, condicionando-os, sendo as más gestões praticadas uma mera consequência da falta de competência que, maioritariamente, estes “nomeados” têm para o desempenho efectivo do cargo. Ora, é aqui que reside um dos principais problemas da democracia em Portugal, tendo estes partidos estado tanto tempo a repartir o poder entre si, eles próprios criaram defesas/obstáculos ao desenvolvimento de novos partidos, por um lado, assim como provocam o estrangulamento dos partidos já existentes.

Por outro lado, tal exercício do poder vai criando no eleitorado um sentimento de frustração e de resigno, levando a um conveniente desinteresse. Durante algum tempo, achei que a culpa da elevada taxa de abstenção em Portugal era francamente imputável ao eleitorado. Progressivamente fui percebendo, que esta favorece antes de mais os partidos do centralão (PS e PSD), e que são uma consequência intencional das suas políticas.

Vejamos, o PS nas últimas eleições legislativas conseguiu a maioria absoluta com 45,05% dos votos, ficando-se o PSD pelos 28,70%, num universo de 5712427 eleitores. A verdade é que o PS governa o país com 2573406 votos a que corresponde 29,29% dos votos disponíveis, considerando a existência de uma taxa de 34,98% de abstenção, 3072800 eleitores não votaram num universo de 8785227. Por outro lado, constata-se que é esta mesma abstenção, a sua oscilação, que acaba por ter um papel preponderante no sistema político português actual, na medida em que é ela que decide se é o PS ou o PSD a governar o país. Ou seja, os destinos do país, a sua governação, é decidido por aqueles que decidiram nada decidir, influenciando com isso o próprio sistema democrático.

O que me leva a concluir o seguinte: o facto de que quem tem poder de decisão, opta por não decidir, decidindo pode provocar decisões adversas aos referidos partidos, revelando-se bem mais favorável que assim permaneçam. A tudo isto acresce o facto de PS e PSD terem políticas que cada vez mais se confundem, o que é natural, na medida em que estes partidos, conscientes que o eleitorado maioritariamente votante se situa ao centro, têm desenvolvido as suas políticas nesse sector, somente mantendo os rótulos de esquerda e direita por questões meramente eleitoralistas.

Aliás, decorrente disto mesmo, não fiquei minimamente surpreendido com o pacto para a justiça celebrado entre ambos, assim como com o conveniente afastamento entre ambos na questão da segurança social, como que a dizer, as nossas políticas são diferentes. Certo é, que com a centralização destes dois partidos, a direita tem actualmente uma carência de representatividade junto do eleitorado, tal como acontecia até ao inteligente aparecimento do BE na esquerda. De facto a esquerda em Portugal vinha a ser representada efectivamente, somente pelo PCP, ou seja, com a conexão à ex URSS, e à estagnação política que este partido representa, sendo que à direita, para além da conexão direita/antigo regime, somente encontramos o CDS, que não se conseguindo sequer gerir a si próprio o impede de ser levado a sério quando tenta apresentar medidas para gerir os outros (pelo que não é estranho ter ficado de fora do pacto para a justiça), esperando resolver os problemas do futuro com soluções do passado, apostando para tal no anunciado regresso de Paulo Portas (qual D. Sebastião chegado numa manhã de nevoeiro), como se fosse ele de facto a solução para os problemas da direita em Portugal.
Ou seja, na actual direita portuguesa, tal como acontecia com a esquerda, existe um vazio que pode e deve ser preenchido por um novo partido, que se proponha apresentar um Nova Direita em Portugal, uma direita popular, consciente da evolução social em Portugal, e das novas carências da sociedade.

Uma direita preocupada com os problemas dos trabalhadores, com os reformados, com o flagelo do desemprego, com os sem abrigo, com o futuro dos jovens portugueses, uma direita renovada e alargada assente no Homem, na Nação e no Estado, uma direita do povo e para o povo. O “mercado” está aí, 3072800 eleitores estão ausentes da participação activa na escolha do governo, e a concorrência que existe, ou porque não pode ou porque não quer, não ocupa esse segmento de mercado.

Resta então a esse novo partido saber apresentar-se como tal, e esperar que ao eleitorado lhe seja dada a possibilidade de dele tomar conhecimento.
Franclim Ferreira
In Nova Vaga, nº 6

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Muitas felicidades

1:23 da manhã  

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